quarta-feira, 4 de março de 2009

Enquanto isso...no Patropi

Marina Mello
Direto de Brasília


A senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) afirmou nesta quarta-feira que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez justiça ao cassar ontem o mandato do governador Jackson Lago (PDT), acusado de cometer irregularidades durante a campanha eleitoral de 2006. Na visão da senadora, a cassação de Lago e também do então governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, demonstram um comprometimento com a moral e são um exemplo para coibir excessos.
"Acho que é um novo movimento não só de moral, como também de dar um exemplo para coibir os excessos", disse. "Aguardei com serenidade sem perder a confiança e acho que a Justiça fez justiça", afirmou a senadora.


Roseana deverá assumir o governo assim que o caso for concluído na Justiça Eleitoral. Porém, como a defesa de Lago ainda pode entrar com recurso no TSE, ela afirmou que prefere aguardar a conclusão definitiva para, aí sim, comemorar.

A senadora lamentou o fato de assumir o governo mais de dois anos depois da eleição, mas ressaltou que "nunca é tarde" para se "mudar o que não está correto".

Roseana disse ainda que espera que o caso seja concluído o mais rápido possível pelo TSE, já que ela tem uma cirurgia marcada para o próximo dia 23 para tratar de um aneurisma cerebral.

"Para mim é um desafio: no meio desse processo todo surgir um aneurisma cerebral. (...) Mas a minha saúde deve estar em primeiro lugar, até porque, sem ela, eu não posso governar", disse.

Redação Terra


Speachless!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Medo

Há muitos anos, quando ainda trabalhava como produtora de televisão, fui assaltada na Avenida Brasil, aqui em São Paulo capital, por um moleque drogado que mal conseguia abrir os olhos e segurar a arma. Por sorte eu havia recebido um dinheiro e pude gentilmente passá-lo todo ao garoto, que berrava no meu ouvido enquanto enfiava a arma por uma frestinha do vidro aberto.

Depois disso meu pai gastou fortunas para blindar os carros da família, como se nós fôssemos filhos do presidente dos Estados Unidos ou algo assim. Acho que nunca fiquei tão triste em ver uma boa grana sendo gasta.

Depois de algum tempo saí de São Paulo e voltei para o interior, não livre da violência, mas ao menos numa situação bem mais amena.

E voltei mais uma vez para São Paulo, dessa vez já sem o carro blindado e também sem grana para isso.

Desde então passei por ataques de pânico nas marginais, cada vez que o trânsito parava de vez (quase todos os dias, diga-se de passagem), vendo aquele bando de motoqueiros passando pelo meu carro buzinando e chutando os espelhos e pensando "será que vão me assaltar?". E escondia a bolsa debaixo do banco, o celular debaixo da perna, ficava apenas nas filas do meio e tentava manter uma distância do carro da frente caso eu precisasse fazer qualquer manobra. Todos os dias a mesma coisa.

E daí entrava em São Paulo e o pânico vinha nos semáforos e mais uma vez tentava montar uma estratégia para me sentir minimamente protegida.

Cansada dos ataques, mudei com meu marido para uma casa a um quarteirão de distância do escritório. O medo agora era de ser assaltada e até mesmo baleada a pé, como já vi uma vez aqui na rua do escritório e duas vezes na porta do prédio em que trabalho. Já evitava andar à noite e quando o fazia, porque o bairro é bem gostoso para se caminhar, era com o coração aos pulos. Medo de andar com os cachorros nas ruas porque cachorros também são sequestrados. Medo de andar com a bolsa pendurada no braço ou no ombro. Medo de usar o celular. Medo de que alguém me siga e fique conhecendo os meus passos. Medo de que alguém invada a casa. Medo durante o trajeto que meu marido faz do traballho pra casa e vice-versa.

Semana passada fui pega de supresa, numa tentativa de golpe. Por sorte achei um boteco cheio de bêbados para me abrigar.

Hoje o prédio em que um amigo mora foi invadido por 20 homens fortemente armados. Por sorte as filhas dele não estavam em casa e não precisaram, aos 9 e 6 anos de idade, presenciar essa violência. Mas meus sobrinhos, alguns anos atrás, já presenciaram. Por sorte ninguém acabou machucado ou morto.

Meu pai já foi assaltado no trânsito. Por sorte só levaram seu dinheiro. O mesmo com a minha mãe. O mesmo com o meu marido. Só levaram o dinheiro, o carro, enfim, só bens materiais, graças a Deus!

Só que eu não dou graças a Deus por essas coisas e nem acho que isso é sorte. Isso é uma afronta, uma violência inaceitável e eu estou com a sensação de que estou esperando a morte violenta e injusta de alguém amado para então poder parar de ouvir "por sorte e graças a Deus só levaram bens materiais", como se um vagabundo qualquer tivesse o direito de levar bens comprados com o nosso trabalho. A sociedade não é justa, em um pouco, mas nós também não temos culpa! Desde quando essa diferença social legitima a violência? Desde quando isso nos conforta? Ouço cada argumento e cada agradecimento nesses momentos que estou com a sensação de estar sozinha, sem entender o mínimo que se passa com as pessoas. Tem uma ordem invertida aí e meu inconformismo faz parecer que a inversão é minha. Será???

Eu estou com medo, confesso. Muito medo. E estou percebendo que esses anos todos em São Paulo me transformaram numa pessoa pior: descrente, agressiva, mais impaciente e intolerante. Meninos de rua hoje já não me geram piedade, mas raiva! Estou com medo também do quanto tudo isso ainda irá me afetar se eu continuar aqui.

Pessoas me dizem que São Paulo é assim mesmo, que é preciso se adaptar, mas eu me recuso. Eu ainda acredito que o ser humano merece viver num lugar sem ter que pensar o tempo todo na violência, a cada esquina que passa.

Estou confusa. Estou com medo. Muito medo.