domingo, 27 de abril de 2008

Vai andar ou vai parar?

Todo o mundo sabe que dirigir um carro pelas ruas de São Paulo não te levará a lugar algum em menos de uma hora. Ainda assim, as pessoas gastam o dinheiro que têm ou que não têm para comprar um carro zero e depois ficam indignadas na direção, xingando o Kassab, o Serra, Deus e, pior de tudo, a pessoa que está ao lado passando pela mesma agonia. As palavras ditas e as atitudes tomadas me fazem crer que humanidade é artigo raro em São Paulo. Cada vez mais raro.

Não estou dizendo que não compreendo essas atitudes, pois eu mesma passava duas horas toda manhã parada no trânsito e se tivesse uma arma, hoje eu estaria certamente presa por homicídio doloso. Mas quando chegamos a esse ponto é preciso parar pra pensar: o que sou afinal, um ser humano ou uma besta?

Ocorre que não é apenas no trânsito que nós, paulistanos, estamos disputando o mesmo espaço. O caos está se alastrando: fila nas padarias, restaurantes, lanchonetes, cinema, teatro e museus. Os parques estão lotados, assim como as calçadas, ônibus e metrô.

Resultado?

Pessoas cada vez mais irritadas e impacientes, preocupadas com o próprio umbigo.
Estou assustada com o que vejo por aqui: no metrô, jovens não dar lugar aos mais velhos; nos Jardins, os “nobres” moradores não recolhem as fezes dos seus cachorros das ruas; motoristas aceleram quando um pedestre tenta atravessar a rua à sua frente; pessoas que nunca se viram dizem barbaridades umas às outras; pessoas se empurram nas calçadas e outro dia, na minha frente, quando uma garota “perguntou” para o homem que andava à sua frente “vai andar ou vai parar?” (eu disse que as calçadas estão lotadas), tomou um belo murro na fuça que a levou pro chão! Assim...reclamou, tomou.

Cada dia mais perigoso viver em São Paulo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Baba Slava

Eis que estávamos na noite de ontem, dia 16 de abril, comemorando o aniversário do meu pai com um jantar em família num dos nossos restaurantes preferidos em São Paulo, quando o celular do aniversariante toca. Do outro lado da linha, seu irmão, que ainda não havia lhe dado os parabéns, diz: “a mamãe morreu”.

Silêncio.

Primeira frase do meu pai: “minha mãe não pode fazer isso comigo!”

Em seguida, um choro sentido e soluçado. Depois, um brinde com uma taça de vinho, bebida dileta da minha avó. Mais choro. Mais brinde. Mais choro. Mais brinde. Até que era chegada a hora de sair correndo dali.

Na minha mente, um único pensamento, expresso apenas posteriormente: minha avó materna faleceu no dia do aniversário da minha irmã, e agora minha avó paterna morre no dia do aniversário do meu pai. Tudo bem que datas são apenas datas, mas que esse negócio está esquisito, está. Fico pensando se as véinhas chegaram a fechar um acordo quanto a isso!

Passado o susto, o dia 17 foi de despedida da vó Slava, como era chamada por seus netos a Sra. Miroslava Dragojevic Bosko Gerbovic (quando eu era criança, minhas amigas brincavam de decorar o nome da minha avó).

Com 89 anos, Miroslava (glória e paz em croata) nasceu no fim da I Grande Guerra na Vela Luka, uma ilha então pertencente à Iugoslávia, hoje croata.

Filha de Ivan Dragojevic Bosko e Marija Dragojevic Bosko (sabe que não sei o nome de solteira da minha bisavó?), veio para o Brasil acompanhada dos pais e das 2 irmãs e irmão mais velho em 1925.

Chegaram numa terra desconhecida, sem falar uma palavra de português, e foram tratados no início quase que como escravos numa fazenda localizada no interior de São Paulo. Meu “dida” (avô em croata, apesar de eu me referir ao meu bisavô), poeta conhecido como Veli Ivan (Grande Ivan), narrou toda a trajetória da Vela Luka ao Brasil em poemas. Uma pena eu não ter conhecido esse bisavô, pois tenho a impresão de que seríamos bons amigos.

Uma vez na capital do estado, junto com outros iugoslavos, minha avó se viu obrigada a trabalhar desde cedo. Teve inclusive o documento civil alterado pelo próprio pai, para poder trabalhar, ainda que fosse uma criança.

Apesar da vida sofrida, teve muito carinho dos pais, cresceu muito amiga dos irmãos, riu e fez rir, pois sempre foi a “palhaça” da turma.

Logo após perder o pai, casou-se com Ivan Gerbovic, pois já tinha quase 30 anos e ele era simpático. Essa era a minha avó: extremamente sincera.

Com ele, teve 3 filhos, os quais lhe deram 8 netos, dos quais 1 lhe deu duas bisnetas, as quais ela não chegou a conhecer. Podemos dizer que deixou várias marcas no mundo.

Gostaria, porém, de elencar as marcas deixadas na minha memória pela minha avó:

- Maria-mole
- lasanha e batata frita
- muitas risadas e palhaçadas
- Bíblia Sagrada, santinhos, imagens de Cristo na cruz
- reza do terço em croata
- cabelos brancos arroxeados
- unhas sempre feitas
- irritação por não chegarmos às 12h00 em ponto para o almoço de domingo
- bingo
- frases como “estou com ânsia de gômito”, “a sereia da imbulância não parou de tocar”, “a fulana tem creme (leia-se crânio) mole”, “a Marinoca tirou o pênis (leia-se apêndice)”, “não gosto que cachorro me lembe”, “eu falo errado porque estudei na Europa”, quando o certo seria “eu falo errado porque nunca estudei” (logo ela, filha de um poeta conhecido na Vela Luka!), “minha neta vai dançar ‘O homem que matou o cisne’ (leia-se “O Lago dos Cisnes”), quando então ela me perguntou “quem era o urubu”....... Vó, era o cisne negro!

Ela já estava doente há uns dois anos, mas não deixamos de tomar um susto, no dia do aniversário do meu pai, sendo que ele a havia visitado duas horas antes do óbito.

Não estou triste, mas bastante emocionada.

Sbog, baba! Obrigada por ter sido minha avó.

PS: apesar da noite passada em claro, eu queria escrever um pouco sobre o dia de ontem. Confesso, porém, que não estou nem enxergando a tela. Desculpem-me quaisquer falhas!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Realizado

Como dá pra perceber do post anterior, fui pra Sorocaba. Estudei bem menos do que devia (agora tô aqui pensando como vou me safar) e arranquei bem mais carrapatos dos cachorros do que eu queria.

Também vi minhas sobrinhas, que estão ficando bochechudas e mais e mais fofas! Vi minha tia também, e meus irmãos e meus pais, claro, se eu fui pra Sorocaba.

Na sexta, andei com os cachorros e vi novela e não pensei em nada e comecei a ler "Previsivelmente irracional".

Até que realizei bem, não fosse não ter estudado tudo o que eu devia!!!!!!!!

Sorocaba

Fazia tempo que eu não ia pra Sorocaba. Fazia mais tempo ainda que eu não dormia em Sorocaba. Como estou sem o marido, fiquei em Sorocaba, na casa dos meus pais, e dormi no quarto que um dia foi meu de sábado pra domingo e domingo pra segunda.

Meus pais foram de São Paulo para Sorocaba quando eu tinha uns 6 meses, portanto, sou mais sorocabana do que paulistana, apesar de que durante a adolescência eu adoraaaaaava falar que era de São Paulo, capital! Adolescência, né?

Na verdade, acho que eu e minha família passamos a maior parte das nossas vidas na Castelo Branco: Sorocaba-SP-Sorocaba-SP-Sorocaba-SP-Sorocaba....como disse um dia meu dentista: "cêis vão pra São Paulo como se fossem pra hóóórta".

Fui muito feliz em Sorocaba. Meus grandes amigos até hoje são de lá, apesar de não morarem mais na cidade. Mas foi lá que aprendi o que são laços de amizade, ou melhor, nós de amizade!

Estudei no mesmo colégio dos 9 meses de idade até os 14 anos. O colégio era pequeno e todo mundo se conhecia: alunos, pais de alunos, professores e funcionários. A minha sensação era mesmo de uma grande família. Várias professoras foram mesmo minhas confidentes: souberam do primeiro amor, primeiro beijo, primeira dor. Várias me deram conselhos.

O Colégio Véritas me viu chegar de fralda, com uma mãe desesperada por deixar sua única filhinha na escola, acompanhou a chegada e o crescimento dos meus irmãos, e 14 anos depois me viu sair com dor no coração. A maior parte dos meus colegas teve a mesma trajetória.

Vários professores moram até hoje no meu coração: Dona Ângela (Português), Maraísa (História), Hosana (professora da segunda série), Dona Marília (ccordenadora pedagógica), Valéria (Matemática). E tinha também o Leco e a Jane da cantina, que faziam um misto quente inigualável!

Do Véritas fomos todos para o Anglo. Foram, com certeza, os anos mais divertidos da minha vida. Eu não estudei nada de nada nesses 3 anos de colegial, mas que eu me diverti, eu me diverti! Meu lema era seguido à risca: you can always re-take a class, but you can never re-live a party! Algo assim...

Do Anglo, já vim para São Paulo. Tá certo que voltei pra Sorocaba depois, por 5 anos, mas aí eu já estava desvairada, tanto que voltei pra cá.

Nos anos que passei em Sorocaba moramos numa chácara, onde meus pais moram até hoje. Cresci cheia de cachorros, rodeada de verde e de vizinhos queridos, que também estudavam no Véritas e depois no Anglo. Íamos e voltávamos juntos todos os dias. Aliás, estudávamos na mesma escola, tínhamos o mesmo dentista, pediatra etc. Parecíamos um bloco. E eu adorava. Hoje cada um está para um lado, mas sabemos que somos um pedacinho da Vivenda.

Está certo que durante a adolescência eu detestava morar na chácara, porque ninguém passava por lá, ninguém me dava carona e eu achava que nunca iria arranjar um namorado que gostasse de mim o suficiente pra ir até lá me ver.

Por isso, eu passava mais tempo na casa das amigas "na cidade" do que na minha própria casa. E ia a pé de um lado pro outro, rodando a cidade toda. Eram tardes no clube ou na casa de um e de outro. Às vezes nos reuníamos na casa de alguém, em plena tarde de segunda, e quando víamos estávamos lá em 40 pessoas! Ô coisa boa...apesar dos meus pais não concordarem, pois queriam que eu passasse mais tempo estudando.

Nas noites de sábado, íamos para a Boatinha do Ipanema. Hoje fico pensando: devia caber uma 100 pessoas lá! E eram sempre os mesmos, mas todo sábado era aquela ansiedade pra saber quem ia na Boatinha!!! E se alguém não ia, era aquele mistério: pra onde tinha ido? Como ousava não aparecer na Boatinha???

As tardes de domingo eram passadas na La Basque ou na Doceria Ciça. O mesmo povo que estava na Boatinha no sábado estava lá no domingo, mas sempre tinha uma novidade. Sempre tínhamos o que falar e do que rir.

Esse final de semana, enquanto estive lá, lembrei de muita coisa e fiquei feliz por ter tantas histórias felizes na memória, mas hoje, quando cheguei em casa cedinho, antes de ir pro trabalho, tive a sensação de voltar pro meu lugar. Não foi sem um pouco de tristeza que eu percebi que a vida muda, muda mesmo. Muitas vezes sem a gente se dar conta. Muitas vezes, sem mesmo a gente querer.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

E chegou mais um final de semana

Estou deixando o escritório, depois de uma corrida ao Fórum Central (eca! eca! eca!).

Na volta, parei na Livraria Cultura do Cjo. Nacional e comprei mais um livrinho, claro!

Pretendo dar uma volta com os cachorros, ver um pouco de novela pra pensar em nada e ficar lendo até pegar no sono, já que estarei sem o marido, que viajou hoje e ficará 10 dias fora. Snif, snif, snif...

Preciso estudar contabilidade nesse final de semana, para a prova que terei na próxima quinta. Dai-me paciência, ó Pai!!!!

Mas quero ver minhas sobrinhas, que não vejo há 10 dias e devem estar bem diferentes já. Também quero ver meus pais, meus irmãos e minha tia.

E quero ir até Sorocaba, para onde não vou há meses! Bom, vou ter que estudar em Sorocaba, se eu realmente for.

Bom, o previsto está aí. Vamos ver qual será o realizado na segunda.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

PQP!!!!!!!!

Alguém mais odeia, mas odeia mesmo, esse Windows Vista???????? Depois que comprei um notebook que já veio com esse Vista minha vida piorou!

Eu sou um anta tecnológica, é verdade, mas não pode ser só antice minha! Nada funciona como antes...N-A-D-A.

Estou espumando de raiva. É sério! E o problema é que esse notebook vai acabar virando uma coisa despedaçada na parede. Nem dormir eu vou conseguir, tamanha a minha irritação.

Quero meu computador e minha vida de antes.

Ditadura na era do conhecimento

Acabei de chegar da aula e estava lendo uns blogs enquanto crio coragem para tomar banho. Tanta gente escrevendo tanta coisa inteligente, divertida, interessante...e eu sem a menor inspiração (ou leia-se talento?).

Fato é que estou cansada. Mentalmente cansada. Quero ler tudo, entender tudo, saber tudo e quando vejo estou assinando trocentas revistas, jornais e sites. Estou me inscrevendo em cursos e palestras, ouvindo notícias no rádio e comprando muito mais livros do que eu poderei ler em duas ou três vidas. Isso mencionando apenas o conhecimento ligado à minha profissão. Ou seja, são revistas, jornais, sites e livros jurídicos. Hoje mesmo pedi num sebo um livro sobre interpretação da lei e dos negócios jurídicos de um jurista italiano. Bárbaro! Mas quando conseguirei ler essa raridade?

Mas o Direito não está sozinho, então tenho que entender de economia, contabilidade, administração, sociologia, psicologia etc etc etc. "O conhecimento é uno", dizem alguns, mas nessa unicidade a cabeça da cabeção da Luciana (como diz minha amiga Lelê) pira!

E tem ainda que sobrar espaço para literatura, para o cinema e para a música, tão essenciais para a minha sobrevivência.

E tem que existir um tempo para os amigos, para o marido, para a família, para os cachorros.

E o dolce far niente?

Non lo so.

A ditadora que existe em mim (e olha que ela manda bem pra c......!) não me deixa pensar ou fazer nada, nem mesmo aos domingos.

domingo, 6 de abril de 2008

Medo!!!

Está nos jornais, nas revistas, na TV e nas rádios: está nascendo um novo bairro privativo em São Paulo. A promessa: casas sem muros, prédios sem grades, namoro na frente de casa e muito mais.

É lindo, mas confesso que tenho um pouco de medo do futuro. Bairro privativo???

PALMAS!

Para o Sérgio Augusto, pela coluna de hoje no jornal O Estado de São Paulo.

Eu não gosto de ler e ver fotos retratando qualquer forma de crueldade contra animais, por pura covardia mesmo. Como se essas coisas não existissem se eu não tomasse conhecimento.

Mas hoje, não sei por qual razão, apesar da foto da foquinha no jornal, eu li a coluna do Sérgio Augusto. Não sem dor no coração, não sem MUITA dor no coração, mas fui até o ponto final.

E saber que alguém, com o espaço que o Sérgio Augusto tem, decide aproveitá-lo para denunciar o maior predador do planeta, me encheu de esperança.