quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Vela Luka





Há muito tempo longe do blog, hoje recebi uma mensagem (comentário do post "Baba Slava"), que me deixou tão feliz, que eu não podia deixar de escrever.


Por uma incrível coincidência, ou não, tão logo li o comentário, recebi um email do meu pai com lindas fotos da Vela Luka, ilha croata onde nasceu minha Baba Slava.



Vela Luka, ilha de onde saíram meu bisavô, o Veli Ivan, que eu tanto gostaria de ter conhecido, minha bisavó, Baba Marija, e seus quatro filhos, dentre eles minha avó paterna.


Vela Luka, que viu essa e tantas outras famílias partirem em busca de paz, para um mundo desconhecido. Tanto tempo num navio, toda uma história e tantos amores deixados para trás, para aqui chegarem sem saber uma só palavra de português. Mal sabiam, aliás, em que parte do mapa mundi estavam. Tudo o que tinham, e tudo mesmo, além da roupa do corpo, era a coragem.


Deixaram para trás as plantações de uva para aqui encontrarem bananas. Descobriram o que realmente significa um dia quante de verão. Viram negros pela primeira vez. Vieram atrás da promessa de um pedaço de terra, mas o que conseguiram foi trabalhar como escravos numa fazenda qualquer do interior de São Paulo. Até a fuga para São Paulo, onde crianças tiveram suas identidades alteradas para que se passassem por mais velhas e pudessem trabalhar. Horas e horas enfiadas em tecelagens, sem ver a cor do dia, quase ficando surdas com o ruido dos teares. Anos longe da escola.


Quando penso na coragem dessas pessoas, especialmente do Veli Ivan, o chefe da família que tomou a decisão e escreveu toda essa aventura em versos, penso que elas não desejavam apenas ter uma vida melhor ou dar uma vida melhor para seus filhos. Gosto de pensar que fizeram isso também por seus netos, bisnetos, trinetos, tetranetos etc. Não sei se pensaram tão longe, mas agradeço por isso. Imensamente.



Veja só, Veli Ivan, aqui seus filhos casaram, tiveram filhos que você não pôde conhecer, mas seus netos se formaram, conseguiram bons empregos, tiveram filhos e seus bisnetos também cresceram em paz, estudaram, trabalham e hoje geram seus trinetos e trinetas. Veja só o quanto você conseguiu com sua coragem!

Muito, mas muito obrigada mesmo. E obrigada a Lúcia Prizmic, que acabou inspirando esse post.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Lu, quando vc diz que deixaram tudo e vieram p/América só com a coragem e a roupa do corpo, vc não só tem razão, como, com as histórias que meu dida contava(ele serviu na marinha de TRieste), que agora já é incorporada a Itália, todos vieram porque já estavam chegando a hora dos filhos irem para servir lá, no Exército e outras burrices que os homens inventaram.
Meu tio Dunko veio com quase 14 anos, meu pai com 13, acho que suas tias tinham idade semelhante.
Prá retirar os meninos e as meninas
que acabariam de alguma forma, mal também, viera prá cá.
Meu Tio e tia, que nasceram aqui,um se chamou Américo e a outra Flora, pois eles ficaram encantados com as matas tão exuberantes, neste país que nascemos, por condição geográfica, mas nosso coração e nossa identidade tem tudo a ver com aquele Mar Adriático (que nunca vi igual). Meu pai me contou, que se fossem bem prá beira da praia, ouviam o som dos sinos em Veneza.
Qdo eu fui prá Itália, queria pegar o vaporetto e atravessar a baía prá chegar a Dubrovinik e dalí para as ilhas, mas o barqueiro não quis se arriscar pois a guerra estava no pior momento e ele não garantiu que depois eu pudesse voltar, com esse sobrenome.
Mas, depois desse papo se vc quiser, vc pode me dar seu end. e tomaremos um cafézinho juntas olhando fotos e dando boas risadas. Ah! me lembre de te contar do casamento do meu primo no Mosteiro de São Bento. A teta Slava foi conosco, só que nós crianças tivemos de sair da igreja de tanta risada, antes que o padre nos pussese prá fora, com o que ela aprontou lá dentro. Hilário!!!

Beijos Lúcia