Primeiro achei que se tratava de mais um daqueles livros com listas do tipo "1000 lugares que você tem que conhecer antes de morrer", "1000 filmes obrigatórios para você assistir" e coisas do gênero que mais me deixam frustradas do que qualquer outra coisa.
Então li a sinopse do livro no site da Livraria Cultura:
"As memórias de um jornalista mochileiro no melhor estilo bibliomania. Uma aventura literária na Paris da virada do milênio. Mais do que a fascinante história da livraria mais charmosa do mundo, a Shakespeare and Company, este livro conta, com um humor impagável, o dia-a-dia de seus personagens e a boemia cultural nas ruas. Com pouco dinheiro no bolso, Jeremy Mercer partiu para a França. Um dia aceitou o convite de uma balconista da Shakespeare and Company para uma xícara de chá. Descobriu que poderia dormir e viver na livraria em troca de prestar serviços diários no local. Fazia parte do trabalho ler pelo menos um livro por dia".
Imediatamente quis saber como alguém faria para ler pelo menos um livro por dia.
No começo a história me pareceu tão doida que achei que era pura ficção. Não era. Eu continuava lendo e a parte do "um livro por dia" não chegava. O autor prestava, sim, serviços na Shakespeare & Company em troca de cama e comida e era aconselhado a ler vários livros, mas em momento algum entendi que era parte do trabalho dele ler pelo menos um livro por dia.
Sempre que compro um livro, a primeira coisa que faço antes de começar a ler é ver o título original. Dessa vez demorei, só o fiz quando todas as explicações sobre a livraria e os serviços lá realizados já tinham sido dadas e eu não conseguia entender o título. O original:
"Time was soft there"
Eis que chego à página 207:
"Estávamos em março e eu estava na livraria há mais de um mês, mas era como se o tempo não tivesse passado. Sem o barômetro normal de um dia de trabalho ou uma agenda fixa, a vida se tornava mais fluida. Era difícil ficar a par das horas e dos dias na livraria, pois tudo ia e vinha em ondas prazerosas de noites e manhãs e tardes.
No mundo penal existe a expressão "tempo duro", que se refere a difíceis sentenças de prisão sob segurança máxima ou com algum tipo de custódia protetora. Isso é para os condenados perigosos, os assassinos, os estupradores. O tempo duro passa lenta e dolorosamente e o homem está mais amargo quando acaba sendo devolvido ao mundo.
O outro extremo do espectro eram as instalações de segurança média ou mínima projetadas para reabilitar os criminosos. Nelas há bibliotecas e salas de musculação, turmas de curso secundário e torneios de hóquei. Uma instituição que certa vez visitei tinha uma fazenda por trás do arame farpado, na qual os internos trabalhavam nos campos e produziam frutas, vegetais e ovos para a cadeia. Outra prisão tinha um time de basquete que viajava pela região jogando em uma liga amadora comunitária. Isso era conhecido como tempo leve, que passava mais facilmente, que era um prazer cumprir.
O tempo na livraria Shakespeare & Company era mais leve que qualquer coisa que eu já tinha sentido".
Ah, agora fez sentido com "Time was soft there". Tudo bem que a tradução "O tempo era leve lá" nao fica boa pra edição no Brasil, mas será que não dava pra pensar em nada mais coerente?
PS: certas traduções e legendas de filmes também podem integrar a lista das coisas que me irritam. Assim como erros de português em outdoors, anúncios, placas etc.
sábado, 4 de agosto de 2007
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