quarta-feira, 25 de julho de 2007

Cachorros...

Meu primeiro cãozinho chegou em casa quando eu tinha uns dois ou três anos. Era um dutchund pretinho, o Pitoco, doado por uma de nossas vizinhas. Meus pais sempre tiveram cachorros e meu pai especificamente achava que não devíamos pagar por algo que não tem preço. Então meu primeiro cão foi um presente da Tia Kay e do Tio Derek.

Logo depois o Pitoco ganhou um irmão de outra ninhada, o Banzé, um dutchund caramelo.

O Pitoco foi o primeiro ser a me ensinar uma grande lição. Eu até hoje carrego uma culpa pelo acontecimento e talvez escrever sobre isso me ajude a expiá-la. Foi assim:

O colégio onde eu estudava, uma vez por ano, se não engano, promovia o Dia dos Animais. Cada criança podia levar o seu animal de estimação para passar o dia na escola. Imagine a zona! Tinha cachorro de tudo quanto é tamanho, gato, passarinho em gaiola, coelho e até sapo! E o mais engraçado é que todos se davam bem. Ficavam lá, ao lado das nossas carteiras, assistindo aula com seus doninhos.

Eis que um ano eu levo o Pitoco no dia errado. Errei. Achei que era o Dia dos Animais e não era. Cheguei lá, com meu pai e meu cachorro na coleira. Só eu com cachorro. Fiquei tão brava com meu erro, era (como ainda é) tão inadmissível eu errar, que eu fiz o quê? Comecei a chutar o Pitoco. Sim, sim, sim. Eu chutava o Pitoco e dizia que ele era um cachorro burro. Não preciso de uma análise freudiana pra entender o que se passou, certo?

O meu pai, acho que não pra não me encher de tapas na frente de todos, disse que ia levar o cachorro de volta pra casa. Passei o dia amargurada e arrependida, claro. Não via a hora de chegar em casa e abraçar o Pitoco e pedir desculpas. Mas o que aconteceu quando eu cheguei em casa? O Pitoco não estava. Nós morávamos numa chácara e os cachorros tinham toda a liberdade para passear por onde bem entendessem, mas o Pitoco, até então, sempre esteve lá. Nesse dia ele sumiu. Ficou fora a noite toda.

Apenas no dia seguinte, quando acordei bem cedo, pude encontrá-lo na porta de casa. Abracei-o com toda a minha força, chorei e pedi desculpas, talvez as mais sinceras que já pedi em toda a minha vida.

Eu sei lá por qual razão ele passou a noite fora, talvez nem fosse mesmo a primeira vez, mas tenho pra mim que ele quis ensinar uma criança a não culpar os outros pelos seus próprios erros.

O Pitoco morreu alguns anos depois, numa briga com os dálmatas da vizinha. Foi minha primeira perda significativa, a que me preparou para tantas outras que tive depois.

Sabe o mais engraçado? No ano seguinte eu levei o Banzé no dia errado. Eu era bem mané, não? Mas dessa vez o Banzé ficou com a gente o dia todo, reinando sozinho na sala de aula, sentadinho ao meu lado. Lembro até que tivemos uma festa de aniversário nesse dia e o Banzé ganhou coxinha e bolo. Se deu bem.

O Banzé, se não estou enganada, morreu atropelado. Depois deles vieram o Caco (uma mistura de cocker com vira-lata), o outro Banzé (irmão de outra ninhada do Caco), o Faro (um fila caramelo), o Corman (um fila cinza) e o Chang (um shar-pei amarelo, o primeiro que meu pai comprou). Todos esses já se foram, deixando suas marcas em cada um lá de casa.

Hoje estamos com Viola (um fox, o mais velhinho), Fubá (labrador amarelo), Branco (labrador preto), Tobias (bulldog inglês), Zeca (poodle branco) e todos os viras que eu e minha mãe tiramos das ruas: Bento, Menina, Boneca, Bionda, Morena, Achado, Matilda e Sasha.

Ah, não posso me esquecer da vira-lata mais especial de todas, que até hoje me faz chorar de saudade: a Aurora, mãe da Bionda, da Morena e do Achado. A Aurorita, que está enterrada sob uma bela primavera lá em casa. A Gorda Vagabunda, que merece um post ou até um livro só pra ela.

E tudo isso eu escrevi porque estava olhando o Ulisses e a Penélope (nossos berneses, os únicos que moram comigo e com o Marcelo) deitados aos meus pés, como se tivessem a missão de me proteger, com aquele olhar de cachorro que me faz chorar de emoção e acreditar que o mundo é, sim, um bom lugar pra se viver.

2 comentários:

clarita disse...

Lu!!!
lindo, AMEI. Só quem tem cachorro pra sentir essas coisas. Quem nunca teve, nao entende.

Admiro atitudes de pessoas como você e a minha irma, que pegam cachorrinhos narua, minha irma mora numa chácara, entao imagina...

Mas, cá entre nós, você era uma manezona quando era criança, hein!!

Beijoca

Cris Degani disse...

Lu.. lembrar do Pitoco, do Banzé... eu lembro de cada uma dos seus cachorros e os outros que ficavam em Sorô. Mas o Pitoco... eu acho que mordi ele, né? Será que vc me desculpa? Que viagem, ele era tão bonzinho, tão tranquilo com as crianças (malvadas?). amei esse post.