sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Meus amantes

Ontem uma amiga me disse que ser apaixonada pela literatura é quase como ter um amante. E não é que concordei com ela?

Quando estou com meus livros, não quero que ninguém me perturbe. Preciso estar a sós com eles, concentrada naquele ato de amar. Muitas vezes é preciso mesmo estar escondida com eles grudados no meu corpo, para que ninguém me perceba e nem mesmo perceba o que vou fazer, para eu não correr o risco de ser interrompida por alguém que pense que estou apenas matando o tempo. Muito pelo contrário, estou parindo o tempo.

As palavras bem colocadas também me tiram o sono, me fazem rolar na cama de um lado para o outro, enquanto não só penso nelas, mas também as sinto na carne. Isso quando não sinto saudades, em plena madrugada, daquele amante que me fez adormecer em seus braços e nem me permitiu ouvir suas últimas palavras. Acordo agitada, tateando à minha volta, até encontrá-lo e levá-lo para um local com alguma claridade, aonde eu possa vê-lo com mais nitidez sem perturbar o sono do marido.

Há ainda os devaneios em plena tarde, em meio às contas e obrigações cotidianas. A vontade de fugir para me encontrar em seus abraços. A sensação de que esse prazer não pode ser encontrado em nenhum outro lugar que não num texto bem escrito.

Como eu não poderia concordar com essa afirmação?

Um comentário:

Murillo diMattos disse...

Dentro desse contexto, que concordo em número, gênero e grau, eu confesso: eu já trai namoradas e esposas (duas, pra ser mais exato e a quem possa interessar), com muitos livros, revistas e gibis. Gabriel Garcia Marques que o diga. E detalhe: não tenho nenhuma crise de consciência por isso, afinal tenho certeza que a leitura é a forma de traição mais sadia que há e a única aprovada por Deus .

Gracinhas a parte, o teu complemento (por uma coisa dita de forma tão linda) é simplesmente poesia pura! Você não erra nunca???

Um abraço!...