De tanto ficar no trânsito eu deveria é trabalhar na CET...mas, enfim, hoje eu estava parada na Avenida Bandeirantes, bem na hora do "rush", se é que isso ainda existe em São Paulo, e no meio da confusão vi um carro quebrado com uma mulher desesperada dentro. Como eu não andava nem pra frente nem pra trás, me deu uma vontade louca de ajudar, mas a gente chegou a um nível de insegurança que eu já imaginei a pobre da mulher me apontando uma arma no momento em que eu fosse oferecer a ajuda. E ainda visualizei seu sorriso me dizendo "bobinha".
Fiquei triste de ter pensado isso, mas não parei. Triste, não?
sexta-feira, 29 de junho de 2007
quinta-feira, 28 de junho de 2007
O vendedor de espanadores
Quinta-feira passada estava eu parada no trânsito na Alameda Lorena, quando vi, na frente do Empório Santa Luzia, um senhorzinho vendendo espanadores. Devia estar entre os sessenta e setenta anos, era magriiiiiinho, com o rosto fino, principalmente o nariz, e um olhar bondoso do tamanho do mundo. Eu reparei quando ele deu um sorriso pra uma mulher que estava entrando no supermercado, e naquele momento me apaixonei. Fiquei com vontade de descer do carro para abraçá-lo. Mais: fiquei com vontade de trazê-lo para casa. Ele era uma dessas pessoas que a gente tem vontade de guardar em casa bem protegida, para que nenhum mal lhe aconteça. Não fiz nem uma coisa nem outra. Parti.
Depois fiquei pensando que eu deveria ter um espanador para limpar meus livros. No dia seguinte fui a um supermercado qualquer, mas não encontrei espanadores.
Eis que hoje, uma semana depois, estava eu na mesma região, agora a pé, esperando o sinal pra atravessar a rua. E quem estava ao meu lado? O meu vendedor de espanadores. Eu estava atrasada para um compromisso, carregando livros, bolsa, mochila e casaco. Como eu levaria ainda um espanador? Perguntei até que horas ele ficaria ali, ao que ele respondeu que poderia entregar o espanador na minha casa. Como eu disse que depois de duas horas eu estaria de volta àquela esquina, acertamos que ele me esperaria.
Duas horas depois, o avistei de longe, com aquele olhar que derrete meu coração. Sorriu e acenou com a mão de leve. Cheguei perto e ele me ajudou a escolher um espanador macio para os livros ("não vai riscá-los", ele disse) e outro mais duro para os móveis (esse segundo eu levei só pra ele vender mais).
E não é que os espanadores eram caros? Que me importa? Agora estou aqui, cheia de ternura pelos bens adquiridos. Talvez na próxima quinta eu o abrace.
Depois fiquei pensando que eu deveria ter um espanador para limpar meus livros. No dia seguinte fui a um supermercado qualquer, mas não encontrei espanadores.
Eis que hoje, uma semana depois, estava eu na mesma região, agora a pé, esperando o sinal pra atravessar a rua. E quem estava ao meu lado? O meu vendedor de espanadores. Eu estava atrasada para um compromisso, carregando livros, bolsa, mochila e casaco. Como eu levaria ainda um espanador? Perguntei até que horas ele ficaria ali, ao que ele respondeu que poderia entregar o espanador na minha casa. Como eu disse que depois de duas horas eu estaria de volta àquela esquina, acertamos que ele me esperaria.
Duas horas depois, o avistei de longe, com aquele olhar que derrete meu coração. Sorriu e acenou com a mão de leve. Cheguei perto e ele me ajudou a escolher um espanador macio para os livros ("não vai riscá-los", ele disse) e outro mais duro para os móveis (esse segundo eu levei só pra ele vender mais).
E não é que os espanadores eram caros? Que me importa? Agora estou aqui, cheia de ternura pelos bens adquiridos. Talvez na próxima quinta eu o abrace.
quarta-feira, 27 de junho de 2007
terça-feira, 26 de junho de 2007
Momento brega
Há muito tempo deixei de ver novelas. Acho que foi por volta de 1995, quando comecei a trabalhar muito à noite como produtora na TV Cultura. Depois larguei a televisão para estudar Direito no período noturno e quando terminei a faculdade simplesmente não tinha mais paciência para as mesmas fórmulas.
Ontem, porém, sozinha em casa na hora do jantar, resolvi ligar a TV e dei de cara com a novela das oito, hoje das nove, da Globo. Não sei do que se trata (a não ser que tem uma gêmea má e uma boa, haja paciência) e não sei o nome das personagens também. Só que, talvez sensibilizada pelo meu atual momento de vida, assisti com muito interesse à cena em que o personagem do Daniel Dantas dizia para a filha, prestes a se casar apenas para satisfazer a mãe (foi o que entendi), que ele passou a vida num emprego do qual ele não gostava para dar alguma segurança e conforto para suas filhas. Esse pai assegurou à filha, por experiência própria, que não valia a pena abrir mão dos sonhos em busca da segurança (obviamente num texto mais elaborado, o qual não consigo reproduzir aqui e agora).
Já disse que estou num momento muito particular, e devo mencionar ainda a TPM, que me faz chorar em comercial de sabão em pó, mas quando esse pai, vivido pelo Daniel Dantas, disse que optar por uma vida medíocre simplesmente não valia a pena, eu vibrei com a cena.
Agora me pergunto: os textos das novelas realmente melhoraram ou é que estou num momento muito brega da vida?
Ontem, porém, sozinha em casa na hora do jantar, resolvi ligar a TV e dei de cara com a novela das oito, hoje das nove, da Globo. Não sei do que se trata (a não ser que tem uma gêmea má e uma boa, haja paciência) e não sei o nome das personagens também. Só que, talvez sensibilizada pelo meu atual momento de vida, assisti com muito interesse à cena em que o personagem do Daniel Dantas dizia para a filha, prestes a se casar apenas para satisfazer a mãe (foi o que entendi), que ele passou a vida num emprego do qual ele não gostava para dar alguma segurança e conforto para suas filhas. Esse pai assegurou à filha, por experiência própria, que não valia a pena abrir mão dos sonhos em busca da segurança (obviamente num texto mais elaborado, o qual não consigo reproduzir aqui e agora).
Já disse que estou num momento muito particular, e devo mencionar ainda a TPM, que me faz chorar em comercial de sabão em pó, mas quando esse pai, vivido pelo Daniel Dantas, disse que optar por uma vida medíocre simplesmente não valia a pena, eu vibrei com a cena.
Agora me pergunto: os textos das novelas realmente melhoraram ou é que estou num momento muito brega da vida?
segunda-feira, 25 de junho de 2007
Da dificuldade de ser cão
"Os animais, que não fazem nada inútil, não meditam sobre a morte", escreveu Paul Valéry.
Não meditam sobre a morte mas se entendiam, como mostrou Sartre em uma estranha página de O idiota da família. Sartre e seus amigos falavam de um cão em sua presença. O animal, que compreendia ser ele o assunto, "tratava de não compreender aquilo que compreendia". A convivência com o homem, que Sartre chama aqui de cultura, torna-se no animal "pura negação por si mesma da animalidade [...] esta implantação do humano como possibilidade recusada traduz-se por uma fruição: o cão sente-se viver, ele se entendia".
É o que aproximadamente Rivarol já dizia no seu Discurso preliminar do novo dicionário da língua francesa:
"Portanto, são a natureza e os acasos da vida que fornecem indícios aos animais, o que limita muito a espécie e a quantidade. Então, somente o homem pode fornecer-lhes sinais artificiais e variados, apesar de não serem os representantes nem os companheiros naturais do objeto".
"Mas quando chegamos a tal troca com os animais, vem a seguir um inconveniente insuperável: nós os tiramos da sua ordem, sem transportá-los para a nossa; e a grande maioria de nossos sinais exprime necessidades que eles não têm, e idéias que não podem conceber".
****************************************
Não pude deixar de pensar nesse trecho do livro "Da dificuldade de ser cão", de Roger Grenier, quando ontem vi um Pet Motel, com a palavra "love" brilhando em neon na janela, uma cama com colchão, espelho no teto em formato de coração e TV de plasma na parede. Nossos queridos cães merecem mais do que isso, não?
Não meditam sobre a morte mas se entendiam, como mostrou Sartre em uma estranha página de O idiota da família. Sartre e seus amigos falavam de um cão em sua presença. O animal, que compreendia ser ele o assunto, "tratava de não compreender aquilo que compreendia". A convivência com o homem, que Sartre chama aqui de cultura, torna-se no animal "pura negação por si mesma da animalidade [...] esta implantação do humano como possibilidade recusada traduz-se por uma fruição: o cão sente-se viver, ele se entendia".
É o que aproximadamente Rivarol já dizia no seu Discurso preliminar do novo dicionário da língua francesa:
"Portanto, são a natureza e os acasos da vida que fornecem indícios aos animais, o que limita muito a espécie e a quantidade. Então, somente o homem pode fornecer-lhes sinais artificiais e variados, apesar de não serem os representantes nem os companheiros naturais do objeto".
"Mas quando chegamos a tal troca com os animais, vem a seguir um inconveniente insuperável: nós os tiramos da sua ordem, sem transportá-los para a nossa; e a grande maioria de nossos sinais exprime necessidades que eles não têm, e idéias que não podem conceber".
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Não pude deixar de pensar nesse trecho do livro "Da dificuldade de ser cão", de Roger Grenier, quando ontem vi um Pet Motel, com a palavra "love" brilhando em neon na janela, uma cama com colchão, espelho no teto em formato de coração e TV de plasma na parede. Nossos queridos cães merecem mais do que isso, não?
domingo, 24 de junho de 2007
Falta de assunto
Não gosto de televisão. Apenas ligo a nossa para ver algum filme. Agora estou aqui, domingão, às 12h15, tentando escrever um conto fantástico, quando meu marido chega de um passeio com os cachorros e liga a TV. O assunto: a bandeirinha Ana Paula tira ou não a roupa? E com depoimentos de uma cambada de gente do mundo esportivo.
Ah, tenha dó!
Ah, tenha dó!
quinta-feira, 21 de junho de 2007
Eu simplesmente não resisti
Fui à Livraria Cultura (A nova) buscar um livro que havia encomendado, o conto Aura, de Carlos Fuentes.
Cheguei, dei uma volta, fui até a área de reservas buscar o livro, dei outra volta, peguei mais dois livros não programados (óbvio), dei outra volta, fui ver alguns CDS, voltei para a área de livros, atendi uma ligação no celular, dei outra volta, resolvi não tomar café por ali e ir embora.
Estou saindo da livraria, no térreo, quando olho para o mezanino e vejo um senhor ali parado, observando calmamente o movimento na livraria. Meu coração acelerou. "Será que é quem estou pensando? Será? Não sei."
Subi para passar mais perto e era. Era ele. Quem? Quem? Quem? José Mindlin. O amador da leitura e dos livros, nas palavras de Antonio Candido. O homem que reuniu 30 mil volumes (já doou 15 mil para a USP) e que lê em média uns 8 livros por mês (e já está com uns 90 anos, faça essa conta). O advogado e depois empresário que dedicou sua vida à leitura.
Eu decidi que iria observá-lo de longe, mas a admiração que tenho por esse homem simplesmente me empurrou para ele e fiz algo que nunca havia feito: fui me apresentar e dizer o quanto eu o admiro e estimo.
Ele foi a coisa mais fofa, disse que estava ficando encabulado com meus elogios e minha emoção (porque eu disse que estava emocionada de encontrá-lo ali) e perguntou meu nome, o que eu fazia e quais livros eu andava lendo no momento. Foi aí que paguei o maior mico, porque me deu um branco. Eu não conseguia me lembrar do que estava lendo! Nem do que havia lido semana passada, nem do que gostava de ler. Que ridículo! Ridículo...
José Mindlin me socorreu e perguntou se eu já havia me aventurado pelo mundo de Guimarães Rosa e Proust. A conversa então voltou a fluir, porque eu disse que inclusive estava começando a ler "Em busca do tempo perdido" e para tanto guardava comigo um conselho dele que li em algum lugar: se você não gostar do livro no começo, leia de novo. Se continuar não gostando, leia de novo. E leia até gostar. Ontem ele me disse que temos que passar da página 50 (eu não cheguei lá ainda).
Quando me despedi e disse da minha admiração mais uma vez, ele explicou que tudo o que tenta fazer é "inocular o vírus da leitura nas pessoas".
Desejo que ele ainda tenha muito tempo para continuar espalhando essa deliciosa doença incurável.
Cheguei, dei uma volta, fui até a área de reservas buscar o livro, dei outra volta, peguei mais dois livros não programados (óbvio), dei outra volta, fui ver alguns CDS, voltei para a área de livros, atendi uma ligação no celular, dei outra volta, resolvi não tomar café por ali e ir embora.
Estou saindo da livraria, no térreo, quando olho para o mezanino e vejo um senhor ali parado, observando calmamente o movimento na livraria. Meu coração acelerou. "Será que é quem estou pensando? Será? Não sei."
Subi para passar mais perto e era. Era ele. Quem? Quem? Quem? José Mindlin. O amador da leitura e dos livros, nas palavras de Antonio Candido. O homem que reuniu 30 mil volumes (já doou 15 mil para a USP) e que lê em média uns 8 livros por mês (e já está com uns 90 anos, faça essa conta). O advogado e depois empresário que dedicou sua vida à leitura.
Eu decidi que iria observá-lo de longe, mas a admiração que tenho por esse homem simplesmente me empurrou para ele e fiz algo que nunca havia feito: fui me apresentar e dizer o quanto eu o admiro e estimo.
Ele foi a coisa mais fofa, disse que estava ficando encabulado com meus elogios e minha emoção (porque eu disse que estava emocionada de encontrá-lo ali) e perguntou meu nome, o que eu fazia e quais livros eu andava lendo no momento. Foi aí que paguei o maior mico, porque me deu um branco. Eu não conseguia me lembrar do que estava lendo! Nem do que havia lido semana passada, nem do que gostava de ler. Que ridículo! Ridículo...
José Mindlin me socorreu e perguntou se eu já havia me aventurado pelo mundo de Guimarães Rosa e Proust. A conversa então voltou a fluir, porque eu disse que inclusive estava começando a ler "Em busca do tempo perdido" e para tanto guardava comigo um conselho dele que li em algum lugar: se você não gostar do livro no começo, leia de novo. Se continuar não gostando, leia de novo. E leia até gostar. Ontem ele me disse que temos que passar da página 50 (eu não cheguei lá ainda).
Quando me despedi e disse da minha admiração mais uma vez, ele explicou que tudo o que tenta fazer é "inocular o vírus da leitura nas pessoas".
Desejo que ele ainda tenha muito tempo para continuar espalhando essa deliciosa doença incurável.
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Leticia
Leticia é minha amiga há 26 anos.
Nesse tempo nós já fomos amigas inseparáveis, já brigamos e ficamos muito tempo sem nos falar, já fomos amigas mais distantes e hoje somos amigas. Simples assim. Ela quase nunca me liga, mas eu ligo sempre que quero rir ou chorar, conversar ou ficar quieta. E depois de nos vermos ela me liga pra dizer que foi bom.
Eu já liguei muitas vezes para a Leticia apenas para dizer o quanto a amo. Um dia saí de sua casa e fiquei com a imagem dela parada no portão me dizendo "tchau". Na fila do caixa da padaria essa imagem ainda me perseguia e descobri que a Leticia é uma das pessoas que eu mais genuinamente amo. Eu não quero nada dela. Ainda que ela resolva nunca mais me fazer rir ou chorar, ainda que ela decida ignorar a minha existência, eu não conseguirei deixar de amá-la. E mais, eu continuarei tendo apenas um interesse: que seus dias sejam mais felizes do que tristes. E resolvi ligar pra ela apenas para dizer isso que agora torno "público".
O motivo de eu estar escrevendo um pouco sobre o meu amor pela Leticia nesse momento é que a vaca viajou sem telefone, email ou messenger. Ou seja, me largou aqui com essa saudade toda e não está nem aí pro meu sofrimento.
Lelê, um dia você vai aparecer de novo e vai ler isso aqui. E aí vai saber um pouco da falta que você faz. E vai ter que sentar ao meu lado com uma garrafa de vinho e me contar tudo sobre essa viagem.
Eu te amo, cadela!
Nesse tempo nós já fomos amigas inseparáveis, já brigamos e ficamos muito tempo sem nos falar, já fomos amigas mais distantes e hoje somos amigas. Simples assim. Ela quase nunca me liga, mas eu ligo sempre que quero rir ou chorar, conversar ou ficar quieta. E depois de nos vermos ela me liga pra dizer que foi bom.
Eu já liguei muitas vezes para a Leticia apenas para dizer o quanto a amo. Um dia saí de sua casa e fiquei com a imagem dela parada no portão me dizendo "tchau". Na fila do caixa da padaria essa imagem ainda me perseguia e descobri que a Leticia é uma das pessoas que eu mais genuinamente amo. Eu não quero nada dela. Ainda que ela resolva nunca mais me fazer rir ou chorar, ainda que ela decida ignorar a minha existência, eu não conseguirei deixar de amá-la. E mais, eu continuarei tendo apenas um interesse: que seus dias sejam mais felizes do que tristes. E resolvi ligar pra ela apenas para dizer isso que agora torno "público".
O motivo de eu estar escrevendo um pouco sobre o meu amor pela Leticia nesse momento é que a vaca viajou sem telefone, email ou messenger. Ou seja, me largou aqui com essa saudade toda e não está nem aí pro meu sofrimento.
Lelê, um dia você vai aparecer de novo e vai ler isso aqui. E aí vai saber um pouco da falta que você faz. E vai ter que sentar ao meu lado com uma garrafa de vinho e me contar tudo sobre essa viagem.
Eu te amo, cadela!
terça-feira, 19 de junho de 2007
Ai, que preguiça
Se eu digo para um pai ou uma mãe de criança que fui ao cinema no final de semana, logo vem o comentário:
- Você não tem filhos, né? Porque se tivesse não iria conseguir ir ao cinema.
O mesmo se dá se eu comento sobre um livro: Você não tem filhos, né? Porque se tivesse não iria conseguir ler um livro.
Viajar? Comer fora? Trabalhar e estudar à noite? Estudar qualquer coisa? Ir ao teatro? Sair com amigos? Namorar?
Sempre o mesmo comentário.
Tudo bem que no fundo eu não sei o que é ter filhos e o trabalho que uma criança pode dar, mas o engraçado é que eu conheço pessoas com filhos que conseguem fazer pelo menos um pouco de tudo isso.
A preguiça que eu tenho é de perguntar para aquelas pessoas se elas usam os filhos apenas como desculpa ou se realmente colocam esse peso sobre ombrinhos tão frágeis.
- Você não tem filhos, né? Porque se tivesse não iria conseguir ir ao cinema.
O mesmo se dá se eu comento sobre um livro: Você não tem filhos, né? Porque se tivesse não iria conseguir ler um livro.
Viajar? Comer fora? Trabalhar e estudar à noite? Estudar qualquer coisa? Ir ao teatro? Sair com amigos? Namorar?
Sempre o mesmo comentário.
Tudo bem que no fundo eu não sei o que é ter filhos e o trabalho que uma criança pode dar, mas o engraçado é que eu conheço pessoas com filhos que conseguem fazer pelo menos um pouco de tudo isso.
A preguiça que eu tenho é de perguntar para aquelas pessoas se elas usam os filhos apenas como desculpa ou se realmente colocam esse peso sobre ombrinhos tão frágeis.
segunda-feira, 18 de junho de 2007
Dia de domingo em São Paulo
Como todo bom dia de domingo, começa impregnado de preguiça, mas depois de horas na frente da TV e do computador o estômago avisa que está com vontade de comida japonesa e nos mandamos para a Liberdade à procura de sashimi. Como já estávamos no meio da tarde (aquele horário entre o almoço e a janta), encontramos os restaurantes fechados. Em compensação, nos deparamos com milhares de pessoas se espremendo entre as barraquinhas da tradicional feira da Liberdade, devorando tempurás, yakissobas, espetinhos de camarão e polvo, bolinhos cremosos de polvo (huummmm) misturados com raspadinha oriental (não vi a diferença pra raspadinha da praia) e sucos das mais variadas frutas. Apesar da multidão e do meu pavor desta, resolvi ficar e me empanturrar de bolinhos de polvo com molho de soja acompanhados de peixe seco. Muito bom!
De sobremesa, entrei naquelas lojinhas chinesas e japonesas e comprei pacotes e mais pacotes de balas, como toda criança adora fazer. Ah, comi também doce de feijão azuki e experimentei uns sorvetes japoneses. Deu pra perceber que saí rolando da Liberdade, não?
Depois dessa orgia gastronômica, resolvemos encarar uma sessão de cinema, torcendo para não dormirmos no meio do filme (devo confessar que eu consegui resistir ao sono, mas o Marcelo não).
No meio do caminho, uma cena hilária: meia dúzia de amigos reunidos no vão do MASP, segurando uma faixa amarela que anunciava a 1ª Parada do Orgulho Hetero. Para cada carro que passava, eles gritavam "se você é hetero e tem orgulho, bata palmas". E as pessoas batiam. Ficamos imaginando esse grupo organizando a passeata numa mesa de bar, completamente bêbados, e demos boas risadas.
Antes de irmos pro cinema, uma parada na nova Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Está linda, é enoooorme, mas um enoooorme que chegou a me assustar. No entanto, a impressão de que a essência da livraria poderia se perder no meio daquele espaço todo foi embora quando o vendedor me atendeu com a mesma atenção e conhecimento de sempre. Ufa! Mas o melhor de tudo foi ver milhares de pessoas curtindo a livraria, algo que sempre me deu muita alegria.
Última parada: cine Unibanco. Não conhecíamos nenhum dos filmes em cartaz e escolhemos "A vida secreta das palavras" pela sinopse, pelos atores e pelo próprio título (no meu caso).
No começo do filme não consegui entender, ou mesmo imaginar, para onde ele iria e entrei no clima do suspense. Nada mal. A coisa vai engrenando, você ainda não sabe direito o que significa tudo aquilo e de repente leva um soco no estômago. Foi assim que me senti: nauseada.
É um bom filme, mas já em casa li um crítico dizendo que poderíamos chegar um pouco atrasados e sair antes do final. Acabei concordando com ele, pelo menos quanto à recomendação para chegarmos atrasados. A primeira cena realmente me pareceu desnecessária e desconexa com o restante do enredo.
De sobremesa, entrei naquelas lojinhas chinesas e japonesas e comprei pacotes e mais pacotes de balas, como toda criança adora fazer. Ah, comi também doce de feijão azuki e experimentei uns sorvetes japoneses. Deu pra perceber que saí rolando da Liberdade, não?
Depois dessa orgia gastronômica, resolvemos encarar uma sessão de cinema, torcendo para não dormirmos no meio do filme (devo confessar que eu consegui resistir ao sono, mas o Marcelo não).
No meio do caminho, uma cena hilária: meia dúzia de amigos reunidos no vão do MASP, segurando uma faixa amarela que anunciava a 1ª Parada do Orgulho Hetero. Para cada carro que passava, eles gritavam "se você é hetero e tem orgulho, bata palmas". E as pessoas batiam. Ficamos imaginando esse grupo organizando a passeata numa mesa de bar, completamente bêbados, e demos boas risadas.
Antes de irmos pro cinema, uma parada na nova Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Está linda, é enoooorme, mas um enoooorme que chegou a me assustar. No entanto, a impressão de que a essência da livraria poderia se perder no meio daquele espaço todo foi embora quando o vendedor me atendeu com a mesma atenção e conhecimento de sempre. Ufa! Mas o melhor de tudo foi ver milhares de pessoas curtindo a livraria, algo que sempre me deu muita alegria.
Última parada: cine Unibanco. Não conhecíamos nenhum dos filmes em cartaz e escolhemos "A vida secreta das palavras" pela sinopse, pelos atores e pelo próprio título (no meu caso).
No começo do filme não consegui entender, ou mesmo imaginar, para onde ele iria e entrei no clima do suspense. Nada mal. A coisa vai engrenando, você ainda não sabe direito o que significa tudo aquilo e de repente leva um soco no estômago. Foi assim que me senti: nauseada.
É um bom filme, mas já em casa li um crítico dizendo que poderíamos chegar um pouco atrasados e sair antes do final. Acabei concordando com ele, pelo menos quanto à recomendação para chegarmos atrasados. A primeira cena realmente me pareceu desnecessária e desconexa com o restante do enredo.
sexta-feira, 15 de junho de 2007
É coisa de doido?
Não consigo trabalhar quando o Outlook fica no canto direito da tela. Tudo sai da ordem, tenho que fechar tudo e abrir de novo o Outlook para que fique no canto esquerdo. Eu, hein....
Antes que a vida seja desperdiçada
Há dois dias assisti pela segunda vez o delicioso filme "Antes do amanhecer". A primeira tinha sido há uns dez anos, eu acho, mas eu me lembrei que naquela época eu fiquei com a certeza de que Celine e Jesse iriam se encontrar no dia 16 de dezembro de 1995, afinal, o ser humano precisa de um final feliz e eu não sou diferente.
Como eu agora tinha alugado "Antes do amanhecer" e "Antes do pôr do sol" (então já sabia que eles não tinham se encontrado em dezembro de 95), passei o dia de ontem ansiosa para ver o final dessa história, a não ser que tivéssemos que esperar 2013 para isso, o que no fundo me parecia inverossímil. O que eu gostaria de dizer para Celine e Jesse é que essa história de manter apenas uma lembrança feliz e mágica do outro, sem deixar com que a convivência estrague a relação pode ser, sim, muito bonita, mas dividir seus dias, bons ou ruins, sempre com a mesma pessoa também é um belo e delicioso desafio que eu acho que vale a pena. Vale ao menos tentar.
Não foi fácil assistir "Antes do pôr do sol". Eu estava tensa imaginando o que Richard Linklater iria me reservar e eu só relaxei quando ouvi Jesse dizer "I know". Está certo que o meu lado extremamente neurótico e ansioso ficou pensando se ele sabia que o vôo iria atrasar apenas alguns dias ou para sempre, mas depois concluí que eu estava exagerando no racional. Na minha cabecinha romântica ele nunca mais entrou num vôo, a não ser que fosse para viajar pelo mundo com Celine ao seu lado. E isso basta.
Como eu agora tinha alugado "Antes do amanhecer" e "Antes do pôr do sol" (então já sabia que eles não tinham se encontrado em dezembro de 95), passei o dia de ontem ansiosa para ver o final dessa história, a não ser que tivéssemos que esperar 2013 para isso, o que no fundo me parecia inverossímil. O que eu gostaria de dizer para Celine e Jesse é que essa história de manter apenas uma lembrança feliz e mágica do outro, sem deixar com que a convivência estrague a relação pode ser, sim, muito bonita, mas dividir seus dias, bons ou ruins, sempre com a mesma pessoa também é um belo e delicioso desafio que eu acho que vale a pena. Vale ao menos tentar.
Não foi fácil assistir "Antes do pôr do sol". Eu estava tensa imaginando o que Richard Linklater iria me reservar e eu só relaxei quando ouvi Jesse dizer "I know". Está certo que o meu lado extremamente neurótico e ansioso ficou pensando se ele sabia que o vôo iria atrasar apenas alguns dias ou para sempre, mas depois concluí que eu estava exagerando no racional. Na minha cabecinha romântica ele nunca mais entrou num vôo, a não ser que fosse para viajar pelo mundo com Celine ao seu lado. E isso basta.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
Minha confissão
Não sei precisar se enquanto candidata ou já eleita prefeita da cidade de São Paulo, mas fato é que um dia vi uma foto da Sra. Marta Suplicy durante uma visita a um dos bairros da periferia de São Paulo e nunca mais a esqueci.
A digníssima senhora vestia um belo par de sapatos Channel, com enormes e finos saltos. No momento em que teve que pular um córrego, deu uma leve levantada, sempre muito elegante, na longa saia que usava, para que não ficasse molhada com aquela água. Nesse instante, foi clicada e a foto divulgada. Ao ver aqueles sapatos, nasceu meu ódio pela "senhoura" Marta. Simples assim: olhei e odiei.
A partir de então eu comecei a visualizar a seguinte cena: essa mulher deitada no chão, imobilizada, levando chutes e mais chutes de saltos Channel bem finos, por todo o corpo, até que ela pedisse misericórdia. Eu não fiz esforço para ter essa visão, foi simplesmente a imagem que me veio à mente naquele momento e ela continua a aparecer cada vez que eu passo de carro na Av. Rebouças depois da reforma que essa criatura fez. Talvez um bom lugar para ela levar esses chutes seja na própria Rebouças.
Eis que hoje, agora ministra do turismo, durante o lançamento do Plano Nacional de Turismo 2007-2010, essa senhora, relembrando seus tempos de sexóloga (ô saudade) dá o seguinte conselho aos passageiros que chegam a passar dias inteiros nos aeroportos brasileiros à espera de um vôo: "relaxa e goza, porque depois você esquece todos os transtornos". Acho que dá pra imaginar o tipo de imagem que veio à minha mente ao ouvir essa frase, não? E ela complementou dizendo que "é igual a dor de parto. Depois você nem se lembra". A única exceção deve ser a da mãe da mesma.
Será que essa mulher anda se aconselhando com o Sr. Paulo Maluf? Pelamordedeus, quem foi que deixou essa mulher abrir a boca? Como é que alguém ainda dá algum cargo para essa infeliz? Ah, claro, o cargo foi dado pelo mesmo senhor que disse que a mídia não está ajudando o turismo brasileiro, pois só divulga coisa ruim e faz com que o brasileiro não queira sair de casa:
"Se fala de Pernambuco, é morte, se fala do Ceará, é morte, se fala da Bahia, é morte. Ou seja, ele fala: peraí, eu não vou sair daqui não, vou ficar dentro de casa. E ainda olha se tem uma fresta pra não vir uma bala perdida".
Quando eu estava entrando em desespero, pois essas notícias vieram uma atrás da outra e não há coração que agüente, percebi que a esperança para esse país está na TV do Lula. Quando ela entrar no ar, não haverá mais mortes, balas perdidas e corrupção no Brasil.
É só aguardar.
A digníssima senhora vestia um belo par de sapatos Channel, com enormes e finos saltos. No momento em que teve que pular um córrego, deu uma leve levantada, sempre muito elegante, na longa saia que usava, para que não ficasse molhada com aquela água. Nesse instante, foi clicada e a foto divulgada. Ao ver aqueles sapatos, nasceu meu ódio pela "senhoura" Marta. Simples assim: olhei e odiei.
A partir de então eu comecei a visualizar a seguinte cena: essa mulher deitada no chão, imobilizada, levando chutes e mais chutes de saltos Channel bem finos, por todo o corpo, até que ela pedisse misericórdia. Eu não fiz esforço para ter essa visão, foi simplesmente a imagem que me veio à mente naquele momento e ela continua a aparecer cada vez que eu passo de carro na Av. Rebouças depois da reforma que essa criatura fez. Talvez um bom lugar para ela levar esses chutes seja na própria Rebouças.
Eis que hoje, agora ministra do turismo, durante o lançamento do Plano Nacional de Turismo 2007-2010, essa senhora, relembrando seus tempos de sexóloga (ô saudade) dá o seguinte conselho aos passageiros que chegam a passar dias inteiros nos aeroportos brasileiros à espera de um vôo: "relaxa e goza, porque depois você esquece todos os transtornos". Acho que dá pra imaginar o tipo de imagem que veio à minha mente ao ouvir essa frase, não? E ela complementou dizendo que "é igual a dor de parto. Depois você nem se lembra". A única exceção deve ser a da mãe da mesma.
Será que essa mulher anda se aconselhando com o Sr. Paulo Maluf? Pelamordedeus, quem foi que deixou essa mulher abrir a boca? Como é que alguém ainda dá algum cargo para essa infeliz? Ah, claro, o cargo foi dado pelo mesmo senhor que disse que a mídia não está ajudando o turismo brasileiro, pois só divulga coisa ruim e faz com que o brasileiro não queira sair de casa:
"Se fala de Pernambuco, é morte, se fala do Ceará, é morte, se fala da Bahia, é morte. Ou seja, ele fala: peraí, eu não vou sair daqui não, vou ficar dentro de casa. E ainda olha se tem uma fresta pra não vir uma bala perdida".
Quando eu estava entrando em desespero, pois essas notícias vieram uma atrás da outra e não há coração que agüente, percebi que a esperança para esse país está na TV do Lula. Quando ela entrar no ar, não haverá mais mortes, balas perdidas e corrupção no Brasil.
É só aguardar.
terça-feira, 12 de junho de 2007
12 de junho
Ontem, enquanto eu procurava um presente para o meu eterno namorado, vi um senhorzinho, mas senhorzinho mesmo, daqueles carequinhas, magrelinhos e curvados, com uma boina xadrez na cabeça, escolhendo um sapato na Arezzo. Aliás, um sapato bem bacana.
Eu não sei se o sapato era para uma senhorinha que o vem acompanhando por muitos e muitos anos, ou para uma mulher de meia-idade que ele conheceu há algum tempo ou para uma gatinha de 20 anos que ele conheceu há menos tempo ainda.
Seja como for, eu achei a coisa mais fofa o modo como aquele senhorzinho escolhia o sapato, com muito carinho e cuidado. Ele o segurava nas mãos, girava pra um lado, girava para o outro, o colocava no chão, olhava de longe. Simplesmente fofo.
Espero que daqui a muitos anos eu ainda esteja escolhendo um presente para o Marcelo com todo esse cuidado e carinho. E, claro, espero que o Marcelo esteja fazendo o mesmo pra mim!
Um feliz dia dos namorados para todos os apaixonados!
Eu não sei se o sapato era para uma senhorinha que o vem acompanhando por muitos e muitos anos, ou para uma mulher de meia-idade que ele conheceu há algum tempo ou para uma gatinha de 20 anos que ele conheceu há menos tempo ainda.
Seja como for, eu achei a coisa mais fofa o modo como aquele senhorzinho escolhia o sapato, com muito carinho e cuidado. Ele o segurava nas mãos, girava pra um lado, girava para o outro, o colocava no chão, olhava de longe. Simplesmente fofo.
Espero que daqui a muitos anos eu ainda esteja escolhendo um presente para o Marcelo com todo esse cuidado e carinho. E, claro, espero que o Marcelo esteja fazendo o mesmo pra mim!
Um feliz dia dos namorados para todos os apaixonados!
segunda-feira, 11 de junho de 2007
"Não tem mais inocente"
Eu tive medo da Estamira desde que a vi pela primeira vez, na forma de um trailler na telona do cinema. Tive medo de encará-la e ver em seus olhos o tamanho da minha pobreza. E também da pobreza de quem me cerca, seja lá quem for.
Várias foram as minhas tentativas de entrar numa sala de exibição para ver Estamira, mas eu nunca consegui. Era medo mesmo. De verdade. Como eu sairia daquela sala? O que Estamira poderia fazer comigo?
O tempo passou, Estamira saiu de cartaz e eu me livrei dela. Até hoje.
Entrei na 2001 apenas para devolver os três filmes que tinha alugado no final de semana, dos quais só consegui ver "Conversando com "Mamãe".
Paguei pela locação e quando levantei os olhos, já pronta para sair, Estamira estava lá, num cartaz me encarando. No momento não pensei e saí carregando Estamira comigo.
Cheguei em casa, coloquei a caixa do DVD sobre a mesa, olhei bem para a Estamira, peguei um pacote de Pringles e uma caixa de fundo de alcachofra, sentei no sofá, abri a caixa de alcachofra e apertei o "play" no controle remoto. Medo. Tensão.
As imagens começaram a aparecer: lixo, lixo e mais lixo. Muito lixo. Cachorrinhos mamando. Cachorros sarnentos. Urubus. Barracos. Gente. Gente no lixo. Gente morta no lixo. Cavalo morto no lixo. E Estamira.
Estamira sente falta de sua mãe. A mãe que ela internou num hospício por causa de um amor que a traiu não uma, mas várias vezes.
"Quem revelou o homem como único condicional, não ensinou trair, não ensinou humilhar, não ensinou tirar. Ensinou ajudar".
Estamira acreditava em Deus. Deus esse que um de seus estupradores lhe pediu para deixar de lado durante o estupro. Deus para ela hoje é Deus estuprador.
Estamira simplesmente não aguentou a podridão humana. Preferiu o lixão do Jardim Cramacho. Ou o desperdício do Jardim Cramacho.
"Agora no momento eu não sei nem o nome desse aqui, mas é conserva, é preparada lá fora e boa. Isso também eu como purinho. Palmito. Veio uma carga muito boa. Eu ponho no molho do macarrão também e às vezes fica até melhor que lá no restaurante. Pra quem sabe preparar, né".
Estamira também nos ensina que a gente não aprende na escola. A gente copia. Ela tem um neto de dois anos que "ainda não foi pra escola copiar hipocrisias e mentiras e charlatagens". A gente só aprende com as ocorrências.
Quase tudo em Estamira doeu, mas o que mais me doeu mesmo eu ainda vou criar coragem para dizer. Por enquanto é só meu.
PS: o pacote de Pringles e a caixa de alcachofras esperarão uma próxima oportunidade para serem devorados.
Várias foram as minhas tentativas de entrar numa sala de exibição para ver Estamira, mas eu nunca consegui. Era medo mesmo. De verdade. Como eu sairia daquela sala? O que Estamira poderia fazer comigo?
O tempo passou, Estamira saiu de cartaz e eu me livrei dela. Até hoje.
Entrei na 2001 apenas para devolver os três filmes que tinha alugado no final de semana, dos quais só consegui ver "Conversando com "Mamãe".
Paguei pela locação e quando levantei os olhos, já pronta para sair, Estamira estava lá, num cartaz me encarando. No momento não pensei e saí carregando Estamira comigo.
Cheguei em casa, coloquei a caixa do DVD sobre a mesa, olhei bem para a Estamira, peguei um pacote de Pringles e uma caixa de fundo de alcachofra, sentei no sofá, abri a caixa de alcachofra e apertei o "play" no controle remoto. Medo. Tensão.
As imagens começaram a aparecer: lixo, lixo e mais lixo. Muito lixo. Cachorrinhos mamando. Cachorros sarnentos. Urubus. Barracos. Gente. Gente no lixo. Gente morta no lixo. Cavalo morto no lixo. E Estamira.
Estamira sente falta de sua mãe. A mãe que ela internou num hospício por causa de um amor que a traiu não uma, mas várias vezes.
"Quem revelou o homem como único condicional, não ensinou trair, não ensinou humilhar, não ensinou tirar. Ensinou ajudar".
Estamira acreditava em Deus. Deus esse que um de seus estupradores lhe pediu para deixar de lado durante o estupro. Deus para ela hoje é Deus estuprador.
Estamira simplesmente não aguentou a podridão humana. Preferiu o lixão do Jardim Cramacho. Ou o desperdício do Jardim Cramacho.
"Agora no momento eu não sei nem o nome desse aqui, mas é conserva, é preparada lá fora e boa. Isso também eu como purinho. Palmito. Veio uma carga muito boa. Eu ponho no molho do macarrão também e às vezes fica até melhor que lá no restaurante. Pra quem sabe preparar, né".
Estamira também nos ensina que a gente não aprende na escola. A gente copia. Ela tem um neto de dois anos que "ainda não foi pra escola copiar hipocrisias e mentiras e charlatagens". A gente só aprende com as ocorrências.
Quase tudo em Estamira doeu, mas o que mais me doeu mesmo eu ainda vou criar coragem para dizer. Por enquanto é só meu.
PS: o pacote de Pringles e a caixa de alcachofras esperarão uma próxima oportunidade para serem devorados.
A São Paulo dos feriados...
...é a minha cidade ideal. Fica tudo o que ela tem de bom, o que inclui os habitantes que curtem a cidade de verdade e vai tudo o que ela tem de ruim, principalmente o trânsito e seus motoqueiros alucinados.
Nessas andanças pela cidade dos sonhos fui conhecer (tardiamente) a nova unidade da Livraria da Vila na Alameda Lorena, nos Jardins. Está linda! Arquitetura moderna e ao mesmo tempo aconchegante, com espaços bem distribuídos. Além do ambiente, o essencial: os títulos à venda. Ah, vendem também ótimos CDs e dispõem de um café (Il Barista) muito bom, com algumas mesinhas ao ar livre. Um charme!
Eu me controlei (estou bravamente aprendendo a me controlar quando entro em livrarias) e saí com o perfil biográfico do Ariano Suassuna (livrinho fininho - já estou no final e comecei a ler ontem antes de dormir) e um CD da Macy Gray, no qual dizem que ela grita menos do que de costume. Eu gostei.
A Parada Gay só tornou impossível minha visita à nova Livraria Cultura no Conjunto Nacional. Mas logo estarei por lá.
Nessas andanças pela cidade dos sonhos fui conhecer (tardiamente) a nova unidade da Livraria da Vila na Alameda Lorena, nos Jardins. Está linda! Arquitetura moderna e ao mesmo tempo aconchegante, com espaços bem distribuídos. Além do ambiente, o essencial: os títulos à venda. Ah, vendem também ótimos CDs e dispõem de um café (Il Barista) muito bom, com algumas mesinhas ao ar livre. Um charme!
Eu me controlei (estou bravamente aprendendo a me controlar quando entro em livrarias) e saí com o perfil biográfico do Ariano Suassuna (livrinho fininho - já estou no final e comecei a ler ontem antes de dormir) e um CD da Macy Gray, no qual dizem que ela grita menos do que de costume. Eu gostei.
A Parada Gay só tornou impossível minha visita à nova Livraria Cultura no Conjunto Nacional. Mas logo estarei por lá.
sábado, 9 de junho de 2007
Crianças chipadas
Eu estava preparada para ler a versão infantil da Bíblia para a minha afilhada de 7 anos no momento em que ela me pediu. Mas eu não estava preparada para oferecer respostas a perguntas como: "Quem foi que disse que Deus chama Deus mesmo?", "As coisas estão nos cérebros das pessoas e eu tenho que pedir as coisas pra elas e não pra Deus, porque Deus não está no cérebro das pessoas", "Falam que Deus está em todo lugar. Como ele consegue atender alguém que está no Brasil e alguém que está no Japão ao mesmo tempo?".
Na verdade, eu até tinha umas respostas para dar, mas não sabia se tinha o direito de influenciar na fé de uma pessoa em formação.
Não deve ser nada fácil a tarefa de criar seres humanos.
Na verdade, eu até tinha umas respostas para dar, mas não sabia se tinha o direito de influenciar na fé de uma pessoa em formação.
Não deve ser nada fácil a tarefa de criar seres humanos.
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Das boas e inesperadas surpresas
Resolvi, entre a sessão de análise e um passeio de bicicleta no Parque Villa Lobos, parar pra tomar um café na Cristallo, que por sua vez fica dentro de uma livraria Siciliano, da qual por sinal não gosto pois vendem livros como se fossem sapatos (ou qualquer outra coisa desse gênero). No entanto, eu queria o café. Pra não tomar o café sozinha, resolvi comprar a edição de junho de 2007 da Revista Bravo.
Na fila do caixa, escuto a mulher que estava na minha frente dizendo pra vendedora, "que bom que encontrei esse livro, é a quarta livraria em que entro e já está esgotado na editora".
Espichei os olhos pra ver do que se tratava e li o nome sagrado: Lispector.
Mas que livro era aquele? Espichei mais ainda os olhos: Entrevistas.
Resolvi confirmar com a mulher na minha frente:
- São entrevistas feitas pela Clarice Lispector?
- Isso. E se você gosta, pega o livro, porque eu só achei aqui.
Conclusão: agora vou me deliciar com os diálogos entre Clarice e Vinícius, Clarice e Nelson, Clarice e Tom, Clarice e Lygia e etc, etc, etc. Bom, Clarice já diz tudo.
Na fila do caixa, escuto a mulher que estava na minha frente dizendo pra vendedora, "que bom que encontrei esse livro, é a quarta livraria em que entro e já está esgotado na editora".
Espichei os olhos pra ver do que se tratava e li o nome sagrado: Lispector.
Mas que livro era aquele? Espichei mais ainda os olhos: Entrevistas.
Resolvi confirmar com a mulher na minha frente:
- São entrevistas feitas pela Clarice Lispector?
- Isso. E se você gosta, pega o livro, porque eu só achei aqui.
Conclusão: agora vou me deliciar com os diálogos entre Clarice e Vinícius, Clarice e Nelson, Clarice e Tom, Clarice e Lygia e etc, etc, etc. Bom, Clarice já diz tudo.
terça-feira, 5 de junho de 2007
Já começou difícil
Meu primeiro blog. Minha primeira postagem.
Já pediram pra eu definir quem sou eu e minha análise ainda está em andamento, ainda que eu acredite que nem com a alta conseguirei ter essa resposta. No entanto, posso sempre responder como estou.
Hoje escolhi esse fundo laranja. Deve ter sido a primeira vez que escolhi a cor laranja, mas por ora não vou tentar elaborar essa escolha. Foi laranja e pronto. Amanhã poderá ser verde e depois de amanhã vermelho. Quem é que vai saber?
Apesar de difícil, foi dada a largada.
Algumas pessoas precisam escrever pra não explodir. Prazer, estou uma dessas desde o meu primeiro diário aos 9 anos.
Até amanhã, querido diário.
Já pediram pra eu definir quem sou eu e minha análise ainda está em andamento, ainda que eu acredite que nem com a alta conseguirei ter essa resposta. No entanto, posso sempre responder como estou.
Hoje escolhi esse fundo laranja. Deve ter sido a primeira vez que escolhi a cor laranja, mas por ora não vou tentar elaborar essa escolha. Foi laranja e pronto. Amanhã poderá ser verde e depois de amanhã vermelho. Quem é que vai saber?
Apesar de difícil, foi dada a largada.
Algumas pessoas precisam escrever pra não explodir. Prazer, estou uma dessas desde o meu primeiro diário aos 9 anos.
Até amanhã, querido diário.
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