quinta-feira, 28 de junho de 2007

O vendedor de espanadores

Quinta-feira passada estava eu parada no trânsito na Alameda Lorena, quando vi, na frente do Empório Santa Luzia, um senhorzinho vendendo espanadores. Devia estar entre os sessenta e setenta anos, era magriiiiiinho, com o rosto fino, principalmente o nariz, e um olhar bondoso do tamanho do mundo. Eu reparei quando ele deu um sorriso pra uma mulher que estava entrando no supermercado, e naquele momento me apaixonei. Fiquei com vontade de descer do carro para abraçá-lo. Mais: fiquei com vontade de trazê-lo para casa. Ele era uma dessas pessoas que a gente tem vontade de guardar em casa bem protegida, para que nenhum mal lhe aconteça. Não fiz nem uma coisa nem outra. Parti.

Depois fiquei pensando que eu deveria ter um espanador para limpar meus livros. No dia seguinte fui a um supermercado qualquer, mas não encontrei espanadores.

Eis que hoje, uma semana depois, estava eu na mesma região, agora a pé, esperando o sinal pra atravessar a rua. E quem estava ao meu lado? O meu vendedor de espanadores. Eu estava atrasada para um compromisso, carregando livros, bolsa, mochila e casaco. Como eu levaria ainda um espanador? Perguntei até que horas ele ficaria ali, ao que ele respondeu que poderia entregar o espanador na minha casa. Como eu disse que depois de duas horas eu estaria de volta àquela esquina, acertamos que ele me esperaria.

Duas horas depois, o avistei de longe, com aquele olhar que derrete meu coração. Sorriu e acenou com a mão de leve. Cheguei perto e ele me ajudou a escolher um espanador macio para os livros ("não vai riscá-los", ele disse) e outro mais duro para os móveis (esse segundo eu levei só pra ele vender mais).

E não é que os espanadores eram caros? Que me importa? Agora estou aqui, cheia de ternura pelos bens adquiridos. Talvez na próxima quinta eu o abrace.

Um comentário:

Murillo diMattos disse...

Caramba, que crônica!! Gosto da maneira como escreve... que bom que haja sensibilidade ainda pelo mundo, pelo menos há em você, por cada pedaço de rua onde você passa. Falo isso impondo uma distância de uma bela rasgação de seda, mas muito mais próximo de um tremendo elogio, e eu te agradeço por ler coisas assim. Ao contrário do que escrevo no meu blog, no seu eu encontro isso; uma mulher com sua visão particular do dia a dia, do que está a sua volta, e o melhor com um gostinho de delicadeza, carinho, otimismo e sinceridade... isso hoje em dia é tão escasso, e é justamente sobre essa escassez que eu escrevo lá no meu. Então acho que devo aprender contigo a olhar com mais simplicidade pras coisas e também com mais ternura o que há ao meu redor. É por isso que te visito sempre, pois é uma verdadeira aula de poesia e de como ainda vale a pena ser humano. Um abraço, e de novo obrigado...

Murillo diMattos

Meu blog: www.masmorradosdragoes.blogspot.com