Fui à Livraria Cultura (A nova) buscar um livro que havia encomendado, o conto Aura, de Carlos Fuentes.
Cheguei, dei uma volta, fui até a área de reservas buscar o livro, dei outra volta, peguei mais dois livros não programados (óbvio), dei outra volta, fui ver alguns CDS, voltei para a área de livros, atendi uma ligação no celular, dei outra volta, resolvi não tomar café por ali e ir embora.
Estou saindo da livraria, no térreo, quando olho para o mezanino e vejo um senhor ali parado, observando calmamente o movimento na livraria. Meu coração acelerou. "Será que é quem estou pensando? Será? Não sei."
Subi para passar mais perto e era. Era ele. Quem? Quem? Quem? José Mindlin. O amador da leitura e dos livros, nas palavras de Antonio Candido. O homem que reuniu 30 mil volumes (já doou 15 mil para a USP) e que lê em média uns 8 livros por mês (e já está com uns 90 anos, faça essa conta). O advogado e depois empresário que dedicou sua vida à leitura.
Eu decidi que iria observá-lo de longe, mas a admiração que tenho por esse homem simplesmente me empurrou para ele e fiz algo que nunca havia feito: fui me apresentar e dizer o quanto eu o admiro e estimo.
Ele foi a coisa mais fofa, disse que estava ficando encabulado com meus elogios e minha emoção (porque eu disse que estava emocionada de encontrá-lo ali) e perguntou meu nome, o que eu fazia e quais livros eu andava lendo no momento. Foi aí que paguei o maior mico, porque me deu um branco. Eu não conseguia me lembrar do que estava lendo! Nem do que havia lido semana passada, nem do que gostava de ler. Que ridículo! Ridículo...
José Mindlin me socorreu e perguntou se eu já havia me aventurado pelo mundo de Guimarães Rosa e Proust. A conversa então voltou a fluir, porque eu disse que inclusive estava começando a ler "Em busca do tempo perdido" e para tanto guardava comigo um conselho dele que li em algum lugar: se você não gostar do livro no começo, leia de novo. Se continuar não gostando, leia de novo. E leia até gostar. Ontem ele me disse que temos que passar da página 50 (eu não cheguei lá ainda).
Quando me despedi e disse da minha admiração mais uma vez, ele explicou que tudo o que tenta fazer é "inocular o vírus da leitura nas pessoas".
Desejo que ele ainda tenha muito tempo para continuar espalhando essa deliciosa doença incurável.
quinta-feira, 21 de junho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
uau, parabens pela sinceridade de ir se encontrar com esse icone. e veja: nada é por acaso nessa vida, viu? bjs. cris.
Eu leio até a página 33 sempre :-)
Postar um comentário