terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Desperdício

Estava caminhando por uma das ruas com o metro quadrado mais caro do país. Um dos mais caros do mundo. Paro para um carro sair do estacionamento do supermercado. Um Corolla preto reluzente modelo novo com dois distintos cavalheiros dentro. Ouço um barulhinho de plástico caindo no chão. Olho. Vejo a embalagem do Yakult na calçada e o braço de um dos @%#*&*¨$@ voltando para dentro do carro.

Estava eu na frente do pior da espécie humana, pelo menos no meu conceito: o rico mal-educado. A pessoa que conseguiu de algum modo dinheiro na vida mas não o usou para se educar, para aprender, para adquirir conhecimento, cultura e crescimento. A pessoa que tem a oportunidade (porque sim, dinheiro é importante para nos dar oportunidades, eu diria quase que fundamental)e a desperdiça.

O rico mal-educado, pra mim, não tem desculpas. Não tem justificativas.

Um desperdício de dinheiro. Um desperdício de vaga ocupada na Terra.

Cartinha de Natal

Querido Papai Noel,

eu gostaria de ganhar nesse Natal um IPhone e umas roupas bem bacanas para eu usar nesse verão.

Mas, pensando bem, tudo isso é uma grande bobagem, Papai Noel. Se eu não ganhar um IPhone eu vou continuar me comunicando com o meu celular velhinho. Também conseguirei passar o verão vestida com minhas roupas antiguinhas.

O que eu queria mesmo, Papai Noel, do fundo do meu coração, eu infelizmente acho que o senhor não conseguirá trazer. O que eu quero é muito difícil de ser conseguido por um homem só.

Mas podemos combinar assim, Papai Noel, eu não quero acabar com os corruptos, com a impunidade, com a violência, com Brasília etc etc etc. Vamos deixar isso pra lá. Acho que nós mesmos, sem sua ajuda, conseguimos resolver esses problemas. Afinal, somos adultos pra quê?

O que eu peço para o senhor, aquilo que é realmente difícil, é que o senhor cuide das nossas crianças, das crianças desse planeta inteeeeeeeiro. É muita coisa, não é mesmo? Eu sei, eu sei, mas darei um jeito de ajudá-lo, se o senhor me ajudar também.

Será que juntos conseguiremos fazer com que as crianças parem de ser exploradas, agredidas, maltratadas? Olhares tão puros, tão cheios de esperança, pedindo nossa proteção e nosso amor não merecem derramar lágrimas de dor provocadas pela maldade do adulto.

Criança tem que chorar porque ralou o joelho, quebrou o braço ou a perna jogando bola, machucou o dente, derrubou o sorvete. Coisas de criança!

Em 2010 eu não quero que pais atirem seus filhos pelas janelas dos prédios. Não quero que crianças sejam queimadas pelo pai e pela mãe até a morte. Não quero ver crianças com agulhas enfiadas no corpo nem esquecidas dentro dos carros.

Ai, Papai Noel, de presente eu quero a alegria no rosto de cada criança.

O senhor vai me dar esse presente, não vai?

Muito obrigada e um beijo bem grande no seu bochechão!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os maiores presentes que já recebi

É de presentes como esse que falei abaixo. Esse texto, escrito pela minha querida Maice Glaser. Obrigada, Maice!

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Para Lu

Lindo domingo de sol em São Paulo. A semana do Natal começa. No entanto, o jornal que leio pela manhã fala da criança com agulhas no corpo, introduzidas pelo padrasto, dos pais que serão julgados pela morte da filha que foi jogada pela janela de um prédio, do deputado corrupto que esconde dinheiro nas meias e na cueca, da censura que volta à imprensa, dos gases que poluem a atmosfera, da falta de respeito e humanidade.
Depois de uma hora de leitura, com os dedos sujos da tinta escura e a mente suja de notícias, chego a um caderno especial com contos de Natal. São nove contos escritos por ficcionistas de várias gerações e diferentes estados do país. No final do caderno, o clássico “Missa do Galo” de Machado de Assis.
A leitura dos contos foi um presente. Me fez pensar na mágica e na riqueza da literatura, com seu poder de transformar, gerar, transcender. Estes escritores vieram de várias épocas, várias cidades, várias experiências e todos, cada um a seu modo, me tocou e me emocionou. Estes, também andam pelas ruas, também fazem ou fizeram parte de suas cidades. Estes também lêem os jornais e sabem das agulhas cravadas em almas, da falta de esperança e de compaixão. No entanto, escrevem sobre vidas. E iluminam vidas.
Neste Natal, tenho muito que agradecer, mas hoje, agradeço a vocês, escritores, por me lembrarem que sob o sol de São Paulo, também caminham homens e mulheres bons. Também caminham esperanças, dignidade e principalmente motivos para se escrever Contos de Natal.





Lu, minha amiga escritora, que eu sei, acredita e escreve o ano todo, Contos de Natal.

11 anos

21 de dezembro de 1998, por volta das nove horas da manhã. O telefone do apartamento em que moro sozinha toca. Atendo.

- Oi Lu, é o Vitor.

- Vitor?

- Tio Vitor.

Ih, Tio Vitor, pai da minha melhor amiga, nunca havia me ligado. Ela deveria ter chegado do Nordeste no dia 20 à noite, no aeroporto de Congonhas, perto de onde eu morava. Será que tinha perdido o voo? Será que ele iria me pedir para buscá-la? Ótimo, assim ao invés de ligar mais tarde pra saber da viagem, como estava planejando, eu poderia ouvi-la pessoalmente.

- Oi tio!!! Tudo bem?

- Não, Lu, não está tudo bem. A Van morreu.

Pausa.

Pausa nos meus batimentos cardíacos. Pausa na minha respiração. Pausa nas minhas funções cerebrais. Olhei pela janela, os carros não se movimentavam, as pessoas pararam de andar, com as sacolas com as compras de Natal suspensas nas mãos. Pausa nos movimentos de rotação e translação.

- Lu? Lu?

- Tio, depois te ligo.

- Lu, você está sozinha? Lu, procure alguém, não fique sozinha. Desculpa te ligar. Desculpe-me por te dar essa notícia.

Tututututututututututu.

Olhei pela janela novamente. As compras de Natal continuavam, as pessoas ainda andavam pelas ruas. Os carros se movimentavam. Eu respirava e pensava. Meu coração batia. A vida não havia parado. Não estava preocupada com a minha dor. Não estava preocupada em ver a Vanessa partir.

Pausa para o grito de animal ferido nas entranhas.

Enxugo as lágrimas e vou ver minha amiga pela última vez.

Muitos vinte e uns de dezembro vieram depois daquele, sempre melhores, como espero que seja o de hoje. É o dia da Vanessa estar ainda mais presente nos meus pensamentos. É o dia de agradecer essa amiga que me deu uma amizade eterna, porque eu sei, seu simplesmente sei, que ela está comigo, cuidando de mim, aonde quer que eu vá.

Obrigada, minha amiga. Amo-te. Amo-te. Amo-te.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Natal...presentes...Vanessa

Hoje recebi mais um presente especial. Um presente de Natal feito pelo coração e escrito por uma amiga tão querida. Esses são os melhores presentes de se ganhar, feitos para você apenas, feitos por quem te presenteia, feitos com amor.

Estou com o coração inchado de tanta alegria.

Ao pensar nesses presentes, cheguei à Vanessa, ai minha tão querida, que na minha ignorância partiu tão cedo. Amanhã fará 11 anos que me deixou sem seu amor, sem seu carinho, sem seus ombros, sem sua risada, sem sua cumplicidade, sem sua admiração, sem seu companheirismo. Sem sua amizade!

Sem seus presentes feitos por você mesma. Sempre com a justificativa de não ter dinheiro, me deu os presentes mais queridos, guardados até hoje no meu quarto: a camiseta com trechos da música "Canção da América" escritos com a sua letra caprichada e a placa de madeira com uma declaração de amor eterno, que você orgulhosamente escreveu com um pirógrafo.

Ai, saudades...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

PARA TUDO!!!

MEU DEUS MEU DEUS MEU DEUS MEU DEUS MEU DEUS MEU DEUS MEU DEUS MEU DEUS MEU DEUS

EU NÃO CONSIGO GRITAR EU NÃO CONSIGO CHORAR EU NÃO CONSIGO ACREDITAR...ESTOU COM ÂNSIA, ESTOU COM DOR...PARA ESSE MUNDO QUE EU VOU DESCER!!!

A Justiça de Ibotirama (BA) decretou na manhã desta quinta-feira prisão temporária dos três suspeitos de ter inserido mais de 40 agulhas no corpo de um menino de 2 anos. De acordo com a assessoria do Tribunal de Justiça, o padrasto da criança, Roberto Carlos Magalhães Lopes, está preso. As outras suspeitas são Angelina Capistana Ribeiro dos Santos e Maria dos Santos Anjos do Nascimento.


O menino, que teve as agulhas espetadas no corpo na cidade Barreirinhas (BA), foi transferido para o Instituto do Coração da Bahia (Incoba), em Salvador, na manhã de hoje. Segundo a assessoria do Hospital do Oeste, em Barreirinhas, onde a criança estava internada, a transferência foi decidida na noite de quarta.

O garoto tem duas agulhas muito próximas ao coração e a equipe médica julgou que seria melhor encaminhá-lo a uma unidade de saúde especialista em cirurgias cardíacas para diminuir o risco da operação de retirada dos corpos estranhos.

De acordo com a assessoria, o estado do menino é grave, porém estável. Hoje, ele respirava sem ajuda de aparelhos, estava consciente e conversava com a mãe. Ele tem se alimentado por meio de sondas e sente incômodos e dores causados pelas agulhas. Suas funções vitais estão normais.

O padrasto do menino confessou na noite desta quarta-feira que colocou os objetos na criança. Segundo informações do Jornal Nacional, ele disse também que teve ajuda de outras duas mulheres para colocar as agulhas na criança - uma delas faria parte de uma seita religiosa. Segundo repercutem as agências de notícias, Lopes teria praticado um ritual de magia negra contra a criança para se vingar da mãe.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
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Veli Ivan II

Já agradeci meu bisavô por ter saído da Europa em plena guerra em busca de paz, encontrada no Brasil.

Mas, meu querido bisavô, custava ter entrado num navio que subisse o Atlântico???

Sou brasileira e um dia desisto

Fico sabendo do assassinato de um amigo de uma pessoa que ainda não conheço pessoalmente. Mais uma pessoa de bem (sim, eu acredito em pessoas do bem e em pessoas do mal) morta por uma arma nas mãos erradas, apesar de eu não saber mais se mãos certas seguram armas. Não sei porque não sei mais pra qual lado correr nas ruas desse país.

Tantas pessoas de bem e queridas andando pelas ruas brasileiras na mira de balas que infelizmente não são perdidas, como querem nos fazer acreditar.

O medo da perda me assombra, da perda anti-natural, da perda violenta, da perda injusta, da perda cruel, da perda inaceitável.

Sinto por essas perdas, mas sinto mais ainda pela perda da nossa humanidade, da nossa liberdade, da nossa dignidade. Sinto pela perda da minha brasilidade. Não me interessa o futebol, a caipirinha, a feijoada, o carnaval, as praias e a alegria do povo brasileiro. Nada disso me faz ter orgulho de ser brasileira.

Eu quero é ser uma brasileira sem medo de andar nas ruas e de ficar em casa.

Eu quero é ser uma brasileira sem medo de morar no próprio país.

Carta aberta para Miroslava Dragojevic Bosko Gerbovic

Vó,

tenho pensado muito em você nesta semana. Por meio desse blog, lido por poucas mas muito queridas pessoas, soube um pouco mais das suas histórias. Fiquei sabendo, por exemplo, que à tarde você gritava na rua "Zezinhooooooo, vem tomar café". Zezinho, por acaso ou não, se tornou o meu pai.

Eu nunca havia pensado em você como mãe, chamando teu filho para o café da tarde. Eu já te conheci como avó. Pensar em você como mãe, nesse momento da minha vida, saber que você sentia o que eu sinto hoje, encheu meu peito e meus olhos de lágrimas.

Hoje acordei pensando em você. Sonhei que peguei um táxi cujo motorista era croata, como você. Eu tentava conversar com ele, mas não conseguia. Lembro muito bem dos seus olhos azuis e da cara de "blatcho".

Pensei que você, com menos anos de vida do que eu tenho hoje, já havia vindo da Iugoslávia pro Brasil com seus pais e irmãos, após a Primeira Grande Guerra, e já havia pra lá regressado com marido e filho, após a Segunda Grande Guerra.

Lembro de um dia estar sentada ao seu lado no sofá, na sua casa, vendo algum programa que me emocionou na televisão. Olhei pra você, eu com os olhos cheios de lágrimas, e perguntei se você não chorava. Sua resposta, a resposta da minha avó sempre alegre e chegada a palhaçadas, até hoje ecoa na minha mente:

- Quem passa por uma guerra nunca mais chora na vida.

Certamente você não poderia imaginar o efeito dessa frase nos ouvidos de uma criança, mas hoje eu concluo que essa foi a maior lição que você me deixou.

Você, vó, me ensinou que o homem pode chegar ao ponto de cometer atrocidades capazes de secar um ser humano.

Um beijo,
Lu

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Dos exageros das campanhas publicitárias

Chevrolet: eu sou o Sol pra você. Hã? Um carro, o Sol pra mim? Menos!

Ford Eco Sport: bem-vindo à vida. Sempre achei que essa frase combina mais com um berçário.Querem me convencer de que a vida só começa após um Eco Sport na garagem? Ah, tá.

Vivo: conexão como nenhuma outra. Só se for de tão ruim. Aí concordo.

E os comerciais na televisão? Aquele da Claro com bolas vermelhas pela cidade e as pessoas felizes flutuando pelas ruas. Não conheço uma pessoa feliz com seu Claro!

E um do Halls, acho, que congela todo mundo.

E acho que o pior de todos, pra mim, é da pasta de dentes Brilhante, que mostra uma equipe de TV entrando banheiro do cara de bocó. "Nossa, brilhante mesmo!"..."isso foi um flash". ???

Perdi minha paciência pra isso (também).

Resgate de uma época que já passou. Ainda bem!

Recebi uma crônica escrita por uma pessoa muito querida, que está fazendo cada vez mais parte da minha vida e me fazendo muito feliz por isso. A crônica me fez lembrar uma que escrevi em 2007 e ao resgatá-la lembrei-me de como sofria no trânsito de São Paulo, o que hoje, ainda bem, ainda bem, ainda bem, acontece raramente. Outras fontes de angústia, porém, não mudaram, mas sigo lutando!

Segue:

Depois de quase matar ou morrer no trânsito de São Paulo cheguei (atrasada, claro) no consultório da dermatologista, onde me submeteria a uma limpeza de pele às sete e meia da manhã, único horário que restava na minha jornada de doze horas de trabalho e isso porque era o dia do rodízio do carro (que eu acabei furando e conseqüentemente sendo multada) e poderia me dar ao luxo de chegar no escritório depois das dez.

Mas o importante é que cheguei, pensei. Cheguei descabelada, irritada, bufando, xingando o pobre do Henry Ford que inventou a produção em série de veículos e me perguntando que raios estou fazendo com a minha vida. O importante é que cheguei viva e sem nenhum assassinato nas costas, reformulei.

Ao olhar para minha cara e sentir minha respiração a esteticista me aconselhou:
- Relaxe...

Já que havia chegado, resolvi que iria aproveitar e relaxar. Afinal, esses momentos se tornaram raros na minha vida.

Deitei na maca, bastante confortável por sinal, fechei os olhos e nesse exato momento a esteticista colocou um som ambiente: cantos de pássaros. Imediatamente comecei a pensar na tristeza daquela cena e tentei me lembrar qual foi a última vez que ouvi o canto de um pássaro ao vivo. Não consegui. Nem sei se voltarei a ouvir um dia. E eu gosto de canto de pássaros ao vivo. Eu gosto de pássaros, gosto de bichos, gosto de mato, gosto de céu azul, gosto de estrelas, gosto do nascer e do pôr do Sol e não sei se verei tudo isso de novo porque passo os dias trancada no carro ou no escritório. Será que estou fadada a ouvir pássaros cantando apenas em CD? E enquanto eu pensava em tudo isso e ficava cada vez mais tensa e triste a esteticista continuava dizendo “relaxe”. E como eu podia relaxar diante dessa tragédia toda?

Mas eu precisava relaxar e resolvi fazer um esforço ainda maior. Foi quando começou a parte dolorida da limpeza de pele: a espremedura, quando transformam o seu rosto num verdadeiro limão. Aí não dava mesmo para relaxar, ainda mais quando comecei a pensar em todos os rituais de tortura aos quais nós mulheres nos submetemos em nome de um padrão de beleza imposto já nem sei mais por quem: essa maldita limpeza de pele, a torturante depilação (eu confesso qualquer coisa diante daquela cera quente), que por sinal preciso fazer, as idas semanais à manicure, ainda que eu tenha faltado nas últimas quatro semanas, a dieta que não faço, mas que deveria fazer e a academia que paguei e não estou freqüentando. Isso sem mencionar a vaidade intelectual que me faz trabalhar feito uma condenada e estudar feito uma burra e que juntando tudo não me sobra tempo para ser feliz.

Conclusão: quanto mais era espremida, mais pensava, mais culpada me sentia e mais tensa ficava. Já estava a ponto de me atirar pela janela quando essa parte do tratamento acabou.

- Agora relaxe, ouvi novamente.

Eu estou tentando, minha filha, estou tentando, mas como posso conseguir com essa pressão???, foi o que apenas pensei em responder.

Nova tentativa de relaxamento, diante da melhor parte da limpeza de pele: a massagem facial.

Por Deus e pelos anjos, quem inventou a massagem? Para mim é o que há de mais divino nesse planeta e sempre depois de uma massagem eu tenho vontade de abraçar o massagista e agradecê-lo por esse ato de amor. Foi nesse ponto que parei pra pensar se eu não deveria ser massagista e passar a vida praticando o bem, pois nesse momento o único bem que pratico é para o acionista da empresa em que trabalho. Por que não passar meus dias fazendo massagem nos outros e deixando as pessoas felizes, trancada numa salinha em silêncio, ouvindo música clássica (eu não iria jamais colocar o som do canto dos pássaros, pois já deu pra perceber o quanto me fez mal)? Por que me deixar ser explorada pelo acionista? Afinal, qual a minha missão?

Pelo jeito fui ficando ainda mais tensa, pois no meio dessa crise existencial ouvi:
- Você precisa relaxar.

Assim mesmo, firme como uma ordem.

Tudo bem, agora eu vou relaxar, prometi para mim mesma.

Fim da massagem (ótimo, já não preciso mais pensar para que raios nasci) e anúncio da próxima etapa:
- Agora vou passar uma máscara relaxante de camomila e maracujá (apesar de eu estar mais pra Prozac) e você vai fechar os olhos e relaxar (ela devia estar cansada de me pedir pra relaxar, pobre mulher).

Tudo bem, agora não vai ter jeito de eu não relaxar, pensei já quase rezando.

A santa da esteticista começou a dar pinceladas no meu rosto com a máscara relaxante, que tinha cheiro de plástico de boneca. Mas qual boneca tinha esse cheiro? A Kátia, a primeira boneca que minha avó materna me deu? Coitadinha da minha avó, que fez tanto sacrifício pra me presentear com bonecas durante toda a minha infância. Lembrei de sua carinha feliz quando via a minha alegria com aquelas bonecas todas e senti muito a sua falta. Mas a Kátia era feita de um plástico vagabundo que não devia ter esse cheiro gostoso. Será que era a Guigui, que também ganhei da minha avó? Acho que não. Também não era o Boneco, o primeiro (e único, acho) boneco menino que tive. Ah, devia ser a “Minha Vida”, que eu batizei de Carolina e de quem cuidei por tantos anos. Aquele plástico sim tinha um cheiro bom. Mas podia ser também o cheiro da Barbie ou da Susy. Qual boneca era???

Fiquei lá lembrando das bonecas e não consegui descobrir qual delas tinha esse cheiro. O que consegui, no entanto, foi constatar que a infância passa muito rápido e eu fiquei com saudades até do útero da minha mãe, pois a limpeza de pele ia chegar ao fim e eu teria que encarar aquele trânsito de novo até o escritório e lá dentro agüentar o chefe, a pressão e o mau-humor de todo mundo, inclusive o meu.

A angústia foi aumentando e eu já estava para chorar quando ouvi:
- Pronto, acabou. Conseguiu relaxar?

- Consegui. Obrigada.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Uma oração pública

Senhor, livrai-me de pessoas agourentas que sentem orgulho em anunciar a distração, o defeito ou o erro alheio.
Livrai-me de pessoas que se acham perfeitas e superiores porque levam o trabalho tão a sério, mas tão a sério, que são incapazes de esboçar um sorriso ou fazer uma brincadeira, como se isso fosse sinônimo de competência.
Livrai-me, Senhor, dessa energia negra que emana da pessoa, que não é amada porque não sabe amar nada além do próprio umbigo ou do que saiu dele.
Dai-me força, Senhor, muitas força, mas muita força mesmo, para que eu segure a minha mão cada vez que sinto vontade de dar-lhe um croque diário.
Dai-me coragem para que eu decida nunca mais olhar para essa pessoa infeliz que quer ver infeliz quem está so seu lado.

A vez do Branco

Mais um cachorro nos deixa: o Branco, nosso labrador preto preto preto como carvão.
Chegou quase que no susto há dez anos em casa. A labradora da vizinha deu cria, fui lá, olhei, gostei e peguei. Uma meiguice até a velhice! Um brincalhão até o final de sua vida, sempre com uma bolinha na boca.
Um gordo de tanto comer abacate direto do pé. Pulava no abacateiro até que a fruta fosse pro chão, pro seu deleite.
Ô Branquinho, vou sentir tua falta quando for pra Sorocaba! Mas já soube que será enterrado debaixo da primavera, perto do Viola. Vê lá se não vão brigar como em vida, hein???

O espírito natalino na cidade grande

Ah, o Natal está chegando. São Paulo tem as noites ainda mais iluminadas.
Durante o dia, porém, aumenta o ruído das buzinas, diretamente proporcional aos xingamentos dos motoristas. Se olhares raivosos matassem, a população de São Paulo nessa época estaria reduzida pela metade.
A Veja dessa semana diz que os terráqueos já consomem mais carne, peixe e água do que o planeta pode nos dar. Eu acrescentaria nessa lista o espaço físico nas grandes cidades.
Nessa época do ano, o metro quadrado fica ainda mais disputado e ninguém admite invasão ao seu espaço, como se o espaço fosse privado. Sacolas servem de armas. E os olhares com intenção de assassinar são trocados também entre os pedestres.
Ontem, numa loja de brinquedos, resolvi comprar um presente bem grandão. O empacotador soltou um "ah, eu mereço" e depois perguntou como eu levaria o pacote até o carro. Não, amigo, respondi, vou a pé mesmo. Ele riu da minha cara e eu segui a pé com meu pacotão. Um homem não sabe do que uma mulher é capaz.
Mais tarde resolvi comprar umas lembrancinhas personalizadas. A máquina de personalizar os presentes resolveu falhar e a vendedora dizia com dentes cerrados que não estava boa naquele dia. É melhor você funcionar, eu não tô boa! Eu não tô booooooaaaaaa!
Respondi, na mesma hora: se for dar trabalho, deixa pra lá, que eu também não tô boa hoje!
Ah, o espírito natalino!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Momento nada a ver

Sonhei com a Maria Zilda!!! (??)

Um presente

- Real, Surreal e Virtual –

p/ Lu Gerbovic





Te guardo
De forma virtual
Entre meus favoritos
Lá entre endereços eletrônicos de música e poesia
Acho que você merecia isso; estar bem no meio dessas coisas
Por que acho que há musicalidade no que escreve
E o que escreve é algo poético, inquietante
É gente se mostrando em verdade
É algo além do rosa da sua página
É preto no branco.
Verdade nua e crua
Sentimento saindo... tomando rumo pelo ar
Encantando quem ele toca
É vento
É você...
É como filme mudo, suas palavras têm gestos
Meio que Charles Chaplin; faz rir e faz chorar
Quase que um Abaporu
Te guardo, antes que pense, bem longe de meus exageros
Mas assim perto dos ouvidos
Ouvindo Marisa Monte... as vezes até Cartola ou Adoniran
Te guardo, ali no quinto item
No totem de sites prediletos
E assim de forma fácil,
Longe do seu transito caótico
Daquele taxista inconveniente
Das nuvens de pernilongos.. te posso achar melhor
E te leio quase que diariamente, religiosamente...
E releio e relaxo e exprimo sussurros de ”que bom!”
Te guardo, mas não só pra mim
Já que te anuncio nos quatro cantos do meu pequeno mundo
Digo a todos que você existe e que você gosta de existir
Digo a todos que sou seu fã de uma forma especial
Pois descobri a tal afinidade
A tal amizade especial
A tal admiração sem busca de outros caminhos
Digo que você é um atalho entre a minha mesmice e a surpresa das tuas palavras
Digo que você descobriu a cor de ser urbana e quer colorir a tua cidade
Digo que você é a observadora do cotidiano
Que é uma medrosa como eu... e que assume de forma corajosa, isso sem risco algum
Digo a todos que te conheço, a amiga que nunca vi
Mas que de alguma forma eu já te visualizo
Pois já disse há imagem no que você escreve
Digo a todos a beleza que há nas suas letras violetas rosadas
Te anuncio assim
Com essa determinação que parece não ter fim
Tento assim, te reescrever num poema que não seja esse
Pois esse se desalinhou da rima, e nem de longe terá cara de canção
Mas sim aquele que de repente entre uma mordida de pernilongo
Ou debruçado sobre a janela, venha
Por que esse como já disse se não me tivesse dado calo na mão
Teria virado livro.
Te guardo não como mais um link
E sim como aquela pessoa sempre presente
Seja nas horas boas
Seja nas horas ruins
Me dizendo de você
Eu acabo lendo um pouquinho de mim...


09/12/2009
20:00h
(Mu®illo diM@ttos)

Desilusão, chocolate e poesia

Hoje pela manhã me senti um pouco traída. E como alguém se sente "um pouco" traída? A traição tem variações? Acredito que não, mas esse "um pouco" talvez se deva ao fato da pessoa que eu entendo que traiu a minha confiança não entender que traiu a minha confiança, e eu entendo que ela tenha entendido isso ao trair a minha confiança sem acreditar que estava me traindo.

Tudo entendido mas não digerido e lá fiquei eu quietinha na minha tristezazinha, pensando nessa pessoa, nesse aspecto da minha vida e em tantos outros mais.

Apesar de também tristinha com meus quilinhos a mais, adocei esse buraco com 3 fatias do Melhor Bolo de Chocolate do Mundo e, enquanto esperava me deliciei com Álvaro de Campos:

"Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida".

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O pernilongo

Há mais de uma hora estou sentada na cama com o notebook no colo, sendo olhada por um pernilongo pousado no lustre. Ele está lá, imóvel, e tenho certeza que assim ficará enquanto continuo por aqui, enquanto tomo banho, janto e descanso, até o momento em que eu resolver me enfiar debaixo do edredon e fechar os olhos.

Sei que ele está me olhando, só esperando a chegada do meu sono. É nessa hora, quando ele notar que eu fechei os olhos, que esse desgraçado virá voando tranquilamente até a minha orelha para acabar com o meu sossego. Enquanto estou aqui desperta, ele fica lá só de butuca, esperando o momento do golpe.

Ele e outros familiares e amigos que vivem nas redondezas estão me deixando em tal estado de nervo que venho eliminando todos que passam pela minha frente, com as minhas próprias mãos. Impressionante como tenho aprimorado minha técnica de extermínio de pernilongos! Nem vontade de colocar aqueles lançadores de veneno no quarto eu tenho, tamanho é o prazer que sinto ao vê-los mortos nas minhas mãos.

Olho pra cima, ele continua lá, me desafiando. Tentarei ser mais esperta do que ele e acabar com a vida dele antes que ele acabe com o meu sono.

Já volto...

1 minuto depois: minha blusa está presa no lustre, mas ele está morto!!!

Mundo virtual

Orkut, Facebook, Twitter, LinkedIn, O Livreiro, Terra, Gmail, Hotmail, etc etc etc...por hoje, cansei de tanto digitar senha!!!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Segunda-feira

Ah, a segunda-feira deveria ser o dia do descanso do final de semana. Hoje, particularmente, com a chuvinha fina que cai em São Paulo e que deixa o dia cinzento, eu queria mesmo é ficar na cama lendo "O Compromisso", da Herta Müller, que comprei ontem e está me fascinando.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

"Sou uma mulher comum"

Capa da Istoé Gente nas bancas, com a Cláudia Raia mostrando a barriga tanquinho, com olhos e bocas de fêmea no cio, dizendo que é uma mulher comum com a seguinte chamada:

"A atriz ensaia quinze horas por dia para seu novo musical e ainda tem tempo de cuidar dos filhos, ir ao mercado e namorar o marido, Edson Celulari"

Cláudia e jornalistas da Istoé Gente que querem me vender essa mentira,

eu sou uma mulher comum! Eu e tantas outras que vejo por aí nas ruas, que andam descabeladas, com a maquiagem escorrendo, que possuem uma barriguinha saliente e uma bunda e duas coxas com celulites e estrias. Nós somos comuns, não a Cláudia com esse corpão e esse glamour todo, ganhando um salário de trocentos mil reais e estampando capas de revistas. Mulheres comuns não são aparecem nas capas das revistas, não fazem novelas, não são agarradas por fãs nas ruas e não dão autógrafos.

O que vocês acham, que eu sou idiota? Que eu vou comprar essa revista por me identificar com a Cláudia Raia?

E vocês querem que eu acredite que nas 9 horas que sobram depois dos ensaios ela cuida dos filhos, namora o marido, vai ao supermercado enfrentar filas, dorme, come, toma banho, faz cocô e xixi, telefona pra mãe, fica parada no trânsito (viário ou aéreo), dá ordens pras empregadas e pras babás etc etc etc?

Desculpem-me, mas das duas uma: ou ela não é uma mulher comum ou vocês estão contando uma baita mentira. Ou, melhor, ainda, as duas coisas.