quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Carta aberta para Miroslava Dragojevic Bosko Gerbovic

Vó,

tenho pensado muito em você nesta semana. Por meio desse blog, lido por poucas mas muito queridas pessoas, soube um pouco mais das suas histórias. Fiquei sabendo, por exemplo, que à tarde você gritava na rua "Zezinhooooooo, vem tomar café". Zezinho, por acaso ou não, se tornou o meu pai.

Eu nunca havia pensado em você como mãe, chamando teu filho para o café da tarde. Eu já te conheci como avó. Pensar em você como mãe, nesse momento da minha vida, saber que você sentia o que eu sinto hoje, encheu meu peito e meus olhos de lágrimas.

Hoje acordei pensando em você. Sonhei que peguei um táxi cujo motorista era croata, como você. Eu tentava conversar com ele, mas não conseguia. Lembro muito bem dos seus olhos azuis e da cara de "blatcho".

Pensei que você, com menos anos de vida do que eu tenho hoje, já havia vindo da Iugoslávia pro Brasil com seus pais e irmãos, após a Primeira Grande Guerra, e já havia pra lá regressado com marido e filho, após a Segunda Grande Guerra.

Lembro de um dia estar sentada ao seu lado no sofá, na sua casa, vendo algum programa que me emocionou na televisão. Olhei pra você, eu com os olhos cheios de lágrimas, e perguntei se você não chorava. Sua resposta, a resposta da minha avó sempre alegre e chegada a palhaçadas, até hoje ecoa na minha mente:

- Quem passa por uma guerra nunca mais chora na vida.

Certamente você não poderia imaginar o efeito dessa frase nos ouvidos de uma criança, mas hoje eu concluo que essa foi a maior lição que você me deixou.

Você, vó, me ensinou que o homem pode chegar ao ponto de cometer atrocidades capazes de secar um ser humano.

Um beijo,
Lu

Um comentário:

Murillo diMattos disse...

Lu, as suas palavras calaram as minhas. Mas vou arriscar falar algo mais:... lindo! Só isso basta, tá? Por enquanto...

Outro abraço!!!